1. Será que os zelotas de Marcelo Rebelo de Sousa terão ficado satisfeitos com o seu pedido de desculpas? Ou ter-se-ão sentido incomodados por, de forma menos salazarenta, o estimado professor de António Costa nunca ter deixado grandes dúvidas quanto a constituir-se numa nova versão daquele execrável sujeito, que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas. A forma como, aliás, concluiu essa aparente retratação vai nesse sentido, porque afiança nada mudar na forma como doravante agirá! Sinal de nada aprender com esse sucessivo embrulhar dos pés pelas mãos em que, ora defendia a Igreja pedófila, ora lhe apontava a probabilidade de muitos mais crimes.
Mas, além de insensato, Marcelo ainda mais se revela mal agradecido, porque teve o primeiro-ministro a meter as mãos no fogo por ele, e lá lhas deixou, sem cuidar de lhe apagar a fornalha como se nada tivesse a haver com isso.
Para um confesso apoiante de António Costa foi incómodo vê-lo a acusar os que encostaram Marcelo à parede. Esperaria algum agradecimento de quem possui tão enfático umbigo? Não quero acreditar, mas essa sacudidela de Marcelo a tão impressivo apoio só confirmou o que se sabe: não desiste de abandonar o palácio de Belém já com o seu partido no poder. Só assim satisfaria a ambição, que nos obriga a suportá-lo por dez anos. Mas este episódio veio revelar o quanto pode entrar numa curva descendente de apoio de quem nele votou e só confirma ter-se deixado - uma vez mais! - enganar por um produto criado nos media mas que, a exemplo da mais enganosa publicidade, não tem nenhuma das qualidades a ele apontadas. Por esta altura deverá assombrá-lo a hipótese de concluir o mandato como Cavaco Silva, que já ninguém tinha paciência para aturar, quando passeava os seus azedumes pelos jardins do palácio de Belém.
2. Raramente de acordo com Miguel Sousa Tavares não deixo, porém, de reconhecer o acerto das suas palavras a propósito da pedofilia na Igreja Católica portuguesa: “isto é apenas a ponta do icebergue de uma estrutura sinistra e submersa, que durante décadas guardou dentro de si um segredo vergonhoso, ocultando-o dos fiéis, da sociedade e das autoridades. Protegendo os seus criminosos, como as máfias fazem.”
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