Excelente a crónica de Carmo Afonso na edição de hoje do «Público», que tem por tema a mensagem de felicitações de Ursula von der Leyen a Giorgia Meloni a propósito da sua indigitação como nova primeira-ministra italiana.
Sobre a política alemã, que dirige a Comissão Europeia, já tivemos sobejas demonstrações de quão impreparada é para o cargo que ocupa em tão exigente momento histórico. E esta celebração da vitória fascista em Itália em nome de uma falaciosa afirmação feminista só reitera a mediocridade do seu pensamento estratégico.
Ao contrário do que von der Leyen parece crer não existe nada de positivo no facto de Meloni ser uma mulher. Como diz a cronista do «Público» mais valia que, em seu lugar, estivesse um homem decente e não esta xenófoba fanática, que muito preza a memória de Benito Mussolini.
Há, porém, uma vertente mais acutilante na abordagem de Carmo Afonso, quando ela não enjeita a responsabilidade das esquerdas em terem aberto o flanco para este tipo de confusões. Porque, de facto, quando se isolaram as “causas fraturantes” do contexto global da luta de classes, como se a vitória de cada uma delas contribuísse para a consagração de todas no seu conjunto, nenhum ganho substancial adveio de tal “esquecimento” para a grande luta dos trabalhadores. Constata Carmo Afonso que “quando a esquerda se esgota nessa lutas – esquecendo as suas origens de luta por um modelo socioeconómico – eclipsa-se e sobretudo abre as portas a que todos se apoderem delas”.
Daí que, ao contrário de Ursula von der Leyen ou de Hillary Clinton - outra voz que parece ter rejubilado com o sucesso de uma das criaturas de Steve Bannon na Europa! - não tenhamos nada a saudar no que acaba de se verificar em Itália. A não ser que, a exemplo de Liz Truss, Giorgia Meloni venha rapidamente a esvaziar-se enquanto fraude política, que personifica.
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