É este o orçamento, que eu gostaria de ver aprovado para 2023? Claro que não, mas maior é a certeza em como nenhuma das oposições seria capaz de fazer igual ou melhor se lhe competissem as responsabilidades governativas. Porque poderíamos esperar algumas melhorias se o Bloco e o PCP ainda integrassem a maioria parlamentar, mas sozinhos, de per si, não conseguiriam aliar o otimismo dos desejos ao incontornável pessimismo da realidade.
Poder-se-á considerar que o debate de anteontem teve por momentos mais mediáticos os ataques cirúrgicos, que António Costa fez às direitas e ao Bloco, agitando uma vez mais o espantalho Pedro Passos Coelho. E foi isso que mais incomodou as direitas porque, se não tiveram pejo em, durante anos a fio, invocarem abundantemente José Sócrates num enleio de mentiras e manipulações, detestam agora provar um fel similar servido como ricochete. Alguns comentadores indignaram-se com a conotação feita entre a Iniciativa Liberal e o Chega, mas parecem cegos à comprovação do ditado em como quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Ora, afinal, há muito os ultraprivatizadores desse partido praticam um fanatismo antissocialista, mesmo que com um suposto glamour distinto do trauliteirismo mentecapto dos apaniguados de Ventura.
Embora não nutra nenhuma simpatia por Fernando Medina reconheço-lhe no discurso aquilo que melhor sintetizou o documento agora aprovado: “O contexto é adverso e os riscos são elevados”, e por isso, “não vendemos ilusões. Fazemos escolhas.”
Como cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém, o governo muniu-se de uma estratégia política, que comporta almofadas significativas para responder à imprevisibilidade da crise, que a guerra na Ucrânia prolonga. Não se trata de um orçamento com pendor socialista, mas também não é decerto aquele que as direitas gostariam de ver consagrado. Por muito que, por preguiça argumentativa ou cegueira ideológica, as esquerdas afiancem ser o caso!
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