terça-feira, 11 de outubro de 2022

O Orçamento possível neste momento específico

 

1. Este não é o Orçamento, que gostaria ver implementado no próximo ano, porque significa perda no meu poder de compra e pouco tem de ideologicamente progressista. Dado que as circunstâncias fizeram António Costa mudar de companhias - em vez do Bloco e da CDU ei-lo a privar com os patrões e sua tropa fandanga no movimento sindical - o resultado está à vista! Mas, perante a imprevisibilidade do futuro a curto prazo, é difícil não compreender a prudência com que o governo o encara. Tanto mais que o Partido Socialista tem o trauma da experiência de há onze anos, quando a assertividade de José Sócrates para anuir aos desastrosos conselhos de Durão Barroso, levou o país à dívida pública, que daria ensejo às direitas em acederem ao pote.

No regresso à governação António Costa contou com o fervor de Mário Centeno sobre as «contas certas», que deixou escola no ministério onde os titulares vão mudando, mas a preocupação mantém-se. Daí a surpresa desconcertada de muitos comentadores das direitas - até o inefável João Miguel Tavares - quanto à descida da dívida pública para 110,8% do PIB no final do próximo ano.

Ciente dos riscos em beliscar em demasia os que manipulam o edifício financeiro internacional no sentido de preservação do sistema capitalista, António Costa vai-lhes respeitando os ditames, procurando introduzir alguns desígnios de maior igualdade social onde eles os não incomodem.

2. Sobre a insaciável vontade de tudo comentar Marcelo também não deixaria de aproveitar a oportunidade de conhecer o orçamento para 2023 para endereçar mais uma farpa ao governo, que acusa de navegar à vista. Como se, na presente conjuntura, seja possível outra alternativa. Mas a mais arguta reação ao dito de Marcelo veio do cartoonista Luís Afonso, que veio lembrar o paradoxo de tal crítica provir de quem sempre age de acordo com o lado donde sopra o vento.

3. No «Público» de ontem, José Pedro Teixeira Fernandes aborda as ameaças decorrentes da guerra na Ucrânia com uma constatação lúcida sobre o que o ocidente anda a (não) fazer a tal respeito:

“Se (...) o Ocidente continua, à sua maneira, também a demonizar a Rússia de Vladimir Putin como um mal absoluto, daqui decorrem duas consequências perversas. O espaço para uma saída política desaparece (ninguém negoceia com alguém que personifica um mal absoluto). Ao mesmo tempo, abre-se o caminho psicológico para o uso de armamento nuclear, pois o inimigo, agora desumanizado, passa a ser algo a legitimamente erradicar, seja com que meios for.”

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