sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Começar a entender algo sobre o assunto!

 

Há aquela história passada com Pierre August Renoir no seu leito de morte, pedindo material a uma enfermeira para ainda pintar as flores existentes na janela do quarto. Acabada essa derradeira obra ter-lhe-á dito:

- Acho que começo a entender algo disto! - E, no entanto, ele fora dos mais reputados mestres impressionistas, assinando nomeadamente um dos quadros que mais me agrada desse período - o Baile no Moulin de la Galette.

Lembrei-me desta história a propósito do meu reiterado otimismo a respeito da aprovação do Orçamento do Estado para 2022. Pesando todas as possíveis variáveis em equação - a chantagem de Marcelo, as previsões das votações do BE e da CDU nas sondagens, a possibilidade de se verem ultrapassados pela extrema-direita e as cedências sucessivas de Costa a muitas das suas reivindicações - não imaginei admissível a hipótese do que, efetivamente, se verificou. Porque não haveria qualquer racionalidade na opção do quanto pior melhor em detrimento da que se traduziria por valer mais um pássaro na mão do que dois a voar.

Afinal, cinquenta anos depois de iniciar seria atenção à política, tentando entendê-la - passando pelo marcelismo, pelo PREC, pelos governos socialistas e das direitas ou, lá fora, pela queda do muro de Berlim e das torres gémeas - ainda me tenho de reconhecer um verdadeiro amador nessa apreciação. Amador no sentido de amar a política a ponto de dar-lhe contínua relevância no que vejo, ouço e leio. Mas amador, igualmente, no sentido de me faltar o talento profissional para conjeturar possível algo como o que sucedeu. Chego à conclusão que ainda tenho muito que aprender até conseguir entender algo de substantivo. Só espero que venha a ocorrer antes das circunstâncias que tinham levado Renoir à sua famosa conclusão.

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