Ontem, ao sair de casa, dei de caras com o meu vizinho da frente, com quem amiúde discuto, porque nos provocamos mutuamente a propósito das respetivas militâncias, eu enquanto socialista, ele como comunista.
- Então, e o Orçamento? - disparou-me ele a primeira farpa.
- É como se já estivesse aprovado! - devolvi-lhe eu.
E assim começou a peleja verbal em que dei conta da minha convicção quanto a tudo se resumir a uma comédia de costumes com “happy ending” anunciado e ele a redarguir-me com a injustiça de haver tanta pobreza à nossa volta justificativa da renitência dos seus camaradas.
Não duvido disso e, se tivesse dúvidas, bastar-me-ia o filme visto ao fim da tarde: «Hálito Azul» de Rodrigo Areias sobre a comunidade piscatória da Ribeira Quente nos Açores. Mas como resolver alguns dos principais problemas, que condicionam a parca riqueza do país. Por exemplo o de termos 1/3 das empresas portuguesas geridas por quem não tem qualquer formação superior. Ora o tempo já não está para «patos bravos», ainda que andem por aí a queixarem-se dos custos das remunerações dos seus trabalhadores ou do custo dos combustíveis, quando a realidade manda reconhecer que lhes falta o saber para a inovação e para a diferenciação, que lhes poderia valer maiores receitas.
É por isso que, por muito que o quisesse, António Costa não pode ir muito além no aumento das verbas para a saúde, para os apoios sociais ou para a cultura. Porque se quisesse satisfazer todos quantos andam na rua a manifestarem-se ou a fazerem greve não bastariam dez orçamentos para os contentar.
Daí que, mesmo sabendo a pouco, o OE para 2022 é bastante melhor do que resultaria de um governo liderado pela tralha cavaquista, que se apresta a retomar as rédeas do PSD. E a sua eventual reprovação significaria a devolução do PC e do BE ao opróbrio de que se cobriram quando, há dez anos atrás, abriram alas para Passos Coelho investir-se como primeiro-ministro. Com os efeitos bem conhecidos para quem trabalhava ou recebia a sua pensão de reforma...
Ou muito me engano, ou está escrito na estrelas que o OE será rejeitado, e isto desde o dia das autárquicas.
ResponderEliminarBE e PCP-PEV rejeitam-no não porque estejam em posição de força, mas de fraqueza, sobretudo os comunistas. Se nada ganham ambos eleitoralmente com a Geringonça, de que vale apoiá-la, pensam eles...
Por isso, deixarão cair Costa, mesmo que isso signifique uma vitória da Direita, mais provável pelo impasse que uma vitória do PS por maioria relativa significaria em futuras eleições, pelo desgaste natural causado pela usura do Poder e até pela crise presente dos combustíveis...
Escusado será dizer que perante as cedências de Costa, os eleitores desses Partidos que não são ideológicos (a maioria, diria eu) se perguntará 'então vocês não quiseram um pássaro na mão para agora nos termos dois a voar?' e irão provavelmente castigá-los nas urnas.
A Esquerda que arranje uns bons hobbies se houver eleições, porque ficará arredada muitos anos do Poder.
O escorpião não morde a rã porque ganhe algo com isso, pelo contrário, afunda-se com ela, mas porque faz parte da sua natureza...