A poucas horas de tudo se esclarecer ainda não quero acreditar no que parece inevitável. Até porque, falando na manifestação dos cuidadores informais desta manhã, não foi fácil a Catarina Martins iludir o quão atrapalhada está.
Para o Bloco a situação era fácil de antever: os comunistas dariam uma mão ao governo e o seu discurso poderia continuar a ser o do costume, o do mero protesto sem compromissos a sério com a realidade substantiva do momento. O problema foi saírem-lhe as contas furadas: constatando que a sua situação eleitoral vai-se agravando cada vez mais, os comunistas terão pensando que perdido por cem, perdido por mil e os resultados de agora poderão ser menos maus do que os daqui a um ano e meio. E eis o Bloco a repetir o estigma de 2011 com iguais consequências à vista: então perderam metade dos deputados, desta vez quantos serão os que ficarão pelo caminho?
E, desta feita, António Costa até pode ser tentado a deixar a situação cair de per si, tendo em conta que não lhe será difícil atirar as culpas para quem as já teve no passado. Com a possibilidade de, assim capitalizar os votos à esquerda, que lhe faltaram para a maioria absoluta nas últimas legislativas. O problema é que não saberá quantos fugirão para a direita numa lógica, que garantiu a Moedas a vitória em Lisboa. Muito embora todas as análises apontem para que não terá sido a direita a congregar mais votos, mas o PS a perdê-los por razões demográficas - a saída de muitos que pertencem à classe média baixa e se viram empurrados pela crescente gentrificação da cidade - e a abstenção dos que julgaram tudo decidido de antemão e se arrependeram no dia seguinte de não se terem dado ao trabalho de irem votar na véspera.
Sem manter o otimismo das semanas anteriores, quando antevia incompreensível outro desiderato, que não fosse a aprovação do Orçamento para 2022, ainda quero crer que não voltaremos à repetição do sucedido há dez anos, quando o regresso das direitas ao poder saldou-se pela perda de muitos dos rendimentos e dos direitos dos pensionistas e dos trabalhadores, quer do setor público, quer do privado. A acontecer não haverá perdão para quem não se contenta com o possível e manteve pressão para alcançar o que, por agora, não o é. E, infelizmente, eu que embandeirei em arco com a convergência de todas as esquerdas, só poderei envergar o luto por elas não se terem mostrado à altura do que lhes exigem os seus eleitores.
Ora aí está o Jorge Rocha a utilizar uma retórica social-democrata e a revelar simultaneamente algum pessimismo.
ResponderEliminarUm pessimista, como se sabe, é meramente um otimista bem informado...