sábado, 9 de outubro de 2021

Quando o mal pode ser partilhado com outros pecadores

 

Que têm em comum Bolsonaro e o bispo auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar? À partida pouco, mas os acasos noticiosos tornam-nos defensores da lógica de um mal não ser assim tão nocivo tão só outros também o pratiquem. Mesmo que seja uma mentira colossal como a agora inventada pelo presidente brasileiro, que relativizou a galopante subida da inflação com o facto de o mesmo se passar em Portugal, segundo ele a passar por uma grave crise económica que uma diligente «minina», aqui emigrada, lhe manda vídeos comprovativos dos “tormentos” por que estamos a passar quando nos deslocamos às compras e não encontramos produtos de primeira necessidade ou não temos com que os pagar. Independentemente da dimensão da falsidade - que não tem ponta por onde se pegue! - fica a noção de que para o genocida brasileiro, se os outros estiverem igualmente mal, pouco importam os seus concidadãos.

O bispo auxiliar de Lisboa incorreu no mesmo tipo de lógica: não se escusa a colaborar com quem se disponha a detetar casos de pedofilia perpetrado pelos seus pares, conquanto se proceda ao mesmo tipo de investigação na Educação ou nos membros das várias Ordens Profissionais, Qualquer denúncia poderia então ser minimizada a pretexto de não serem os padres e outros religiosos os únicos pecadores, porque outros também os cometeriam. D. Américo Aguiar nem sequer pondera que cada caso de pedofilia ou violação é uma tragédia, que basta a si mesma para ser considerada como tal, traumatizando as vítimas para o resto da sua vida. Perante um desses casos pode-se adivinhar que ele trataria de manifestar compaixão, mas lembrando que a vítima seria só mais uma de entre as muitas que, também fora da igreja, terão sido abusadas, violentadas.

O problema para a Igreja portuguesa é haver quem, mesmo situando-se na sua área ideológica de influência, ande a eximir-se de se assumir cúmplice dos seus crimes. Vide a crónica do diretor do «Público» em que ele termina um editorial com o aviso: “no interesse da sociedade, do país e no próprio interesse dos seus membros, a Igreja tem de assumir que tem um problema grave entre mãos. O silêncio, a tergiversação e a hipocrisia só serem para o agravar” .

1 comentário:

  1. 'A verdade vos fará livres', assim reza o Evangelho. A hierarquia da Igreja deveria ser a primeira, à imagem de Francisco, a querer trazer à luz os crimes perpetrados contra os mais frágeis no seu seio. De outro modo, arriscam-se a passar pelo Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz...

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