quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O presumível regresso do cavaquismo?

 

A seis dias da aprovação do Orçamento para 2022 continuo a não acreditar que as esquerdas sejam tão tontas, que deem às direitas um ensejo tão inesperado para recuperarem aquilo que designavam como “pote”. Porque Rui Tavares tem plena razão, quando alerta para o facto de essas direitas nada terem de passistas, mesmo que encabeçadas por quem teve tanta relevância nesse período, porque imbui-as uma lógica cavaquista.

O que quer o historiador dizer com isso? Em novembro de 1985, quando alcançou a liderança do governo depois de ter ido fazer a revisão do carro à Figueira da Foz, Cavaco aproveitou oportunisticamente o equilíbrio das contas públicas, alcançado pelos governos de Mário Soares, mesmo que mediante os ditames do FMI, e sobretudo os muitos milhões inerentes à entrada para a CEE, que  fora igualmente obra do antecessor socialista. Sem nenhum mérito ter tido para conseguir essa situação muito favorável, Cavaco pôs-se a despejar esses dinheiros vindos de Bruxelas em autoestradas, rotundas e outras variantes de betão, que encheram os bolsos a tantos dos seus correligionários e muito particularmente ao que vieram a integrar os cargos sociais do BPN ou nele tiveram contas prodigamente remuneradas com juros acima dos da concorrência.

Imaginemos que o governo de António Costa caía e íamos para eleições. Se o Bloco ou o PCP contam fazer campanha a lembrar os apertos dos cintos por causa da troika bem enganados estarão: a exemplo de Moedas em Lisboa, que prometeu tudo e mais alguma coisa, renegando a sua conhecida filiação austeritária, os partidos das direitas irão fundamentar-se nos muitos milhões do PRR para abalançarem-se a prometer aquilo que nem dois ou três PRR’s seriam capazes de financiar. Que essa estratégia de marketing político dá resultados, mesmo quando parecem tão improváveis, mostra-o os que constatámos na noite de 26 de setembro.

Tendo em conta que nem bloquistas, nem comunistas ganharão eleitoralmente nada de substantivo - pelo contrário podem replicar o revés do partido de Louçã, quando propiciou a vitória de Passos Coelho em 2011 - não se imagina que prazer perverso poderão ter de uma única satisfação: a de verem o PS remetido à oposição de um eventual governo das direitas...

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