Não nos devemos iludir com uma circunstância evidente: gente de pensamento fascista sempre o houve no Portugal de Abril. A vergonha, porém, fazia-os acoitarem-se no voto, e até na militância nos partidos do chamado “arco da governação”.
Se nada podiam contra eles juntavam-se-lhes disfarçando na medida do possível os preconceitos e outro ideário comprometedor.
A má revelação destes últimos anos foi o terem perdido essa vergonha e virem para a luz do dia expressar a verdadeira índole. Culpa das redes sociais e das televisões, que deram relevância ao que não deveria ter passado pelo seu crivo crítico.
Surgiram assim os “deploráveis”, como os chamou Hillary Clinton no seu contexto e logo se viu zurzida por crime de ofensa a quem o termo em causa até pecava pela complacência.
Agora a pouca vergonha exibe-se no seu esplendor - lá nos States dos grandes ladrões oligarcas das tecnológicas e cá no cantinho das malas surripiadas nos aeroportos! - e promete ser espetáculo triste de se ver. Embora sobre uma esperança: a exemplo de outros períodos históricos em que as ditaduras fascistas pareceram florescer, suceder-se-ão os seguintes, que resultarão das lutas sociais contra uma desigualdade ainda mais insuportável na distribuição dos rendimentos. Se os Musks deste tempo se julgam imperadores por mil anos a realidade virá dar-lhes as lições, que outros déspotas conheceram.
Será, então, altura de voltarem às tocas todos quantos agora se deleitam com o momentâneo sucesso dos seus cabeça-de-cartaz. Com os quais nada quererão ter a ver quando as coisas derem para o torto.
Os deploráveis deverão voltar a ter vergonha de quem continuarão a ser, escondendo-se o mais expeditamente possível no meio dos que quererão uma qualidade de vida muito diferente da prometida pelos ídolos erigidos em novas estátuas por derrubar.
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