sexta-feira, 2 de setembro de 2022

O que a direita faz para justificar alianças com o Chega!

 

Começa hoje a Festa do Avante, que é acontecimento cultural muito mais relevante que qualquer um desses festivais, que por aí pululam para encherem os bolsos do genro de Cavaco Silva e de um dos herdeiros da família dona do Coliseu de Lisboa, mas merecerá destaque mediático nada comparável com eles, que tiveram equipas de reportagem a promoverem-nos em todos os telejornais, e sobretudo às marcas, que os utilizam como suporte publicitário. O que justifica a questão de saber que mérito maior terão empresas de telecomunicações ou marcas de cerveja para se verem mais promovidas na (des)informação televisiva do que um partido com mais de cem anos de História e um papel tão determinante no combate à ditadura salazarista-marcelista enquanto ela durou?

É claro que o comunista arrependido, que lançou uma fatwa contra quem nela atuasse, deverá ficar possesso com o não tê-la impedido mas, desde Zita Seabra, Chico da Cuf ou Cândida Ventura, sabemos não existirem anticomunistas mais devotos do que aqueles que, em tempos, terão empunhado a bandeira vermelha com o mesmo fervor fanatizado.

Militando noutro partido tenho em relação ao PCP um distanciamento próximo do de Daniel Oliveira, que assina uma crónica muito interessante sobre a estratégia em curso para criar uma equiparação entre o PCP e o Chega e justificar aquilo que a direita ainda não conseguiu inculcar no eleitorado, como se viu nas mais recentes eleições legislativas: se foi possível um governo do PS com o apoio do partido liderado por Jerónimo de Sousa, também faria sentido um do PSD suportado em André Ventura.

Daí o interesse em mentir sobre a posição do PCP relativamente a Putin, que dele não mereceu qualquer apoio quanto à invasão da Ucrânia. E atirá-lo para as margens de uma extrema-esquerda como se o seu respeito pela Democracia, a aversão ao racismo e à xenofobia pudessem ter algum paralelo com a do Chega no outro lado do espectro político.

Manifestamente, como socialista, não enjeito o regresso de uma convergência entre as várias esquerdas, enquanto a das direitas comporta o tenebroso cheiro do fétido fascismo.

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