É uma evidência abordada por Manuel Loff na crónica que assina hoje no «Público»: “em praticamente lugar algum da Europa se levantam à direita obstáculos à partilha do poder com neofascistas, dos quais os seus aliados negam serem o que eles são.”
Da Suécia à Itália essa constatação vai confirmando aquilo que, antes já se verificou na Hungria, na Polónia ou na Eslovénia, sendo muito provável que se repita proximamente em Espanha, já que o PP anda deitado com o Vox nalgumas das suas regiões.
Não sobram dúvidas, que tão só cresça suficientemente o Chega para chegar ao governo da República, logo Luís Montenegro replicará aquilo que Rui Rio possibilitou nos Açores após as últimas regionais. Para demonstrar a mesma incapacidade de implementar soluções justas e equilibradas para o futuro do país, o qual sempre perde prioridade quando estão em causa as suas ambições pessoais. Tanto mais que o patronato mantém a mesma ganância demonstrada nos tempos do passismo, quando quis reduzir a TSU à custa das pensões dos reformados.
Não devemos ter dúvidas quanto a esta ilação: os pensionistas, os funcionários públicos e a generalidade dos que vivem do produto do seu trabalho têm muito mais a perder com os partidos da direita do que com o Partido Socialista. Mas o que custa a aceitar - sobretudo para quem fez os possíveis para, militantemente, levar António Costa ao cargo atual - é estar em causa a perda de direitos e rendimentos em vez da sua justa recuperação. Em vez de um esperançoso bem presente e futuro, o governo de António Costa tende a constituir-se em mal menor.
Não admira que as sondagens deem conta de inquietante degradação do apoio social que o sustenta. Mesmo relativizando a sua importância, constata-se a redução da diferença relativamente ao PSD e a absurda subida do Chega, mesmo constituída por aquele tipo de imbecis como o revelado por Ricardo Araújo Pereira no seu último programa, quando um militante açoriano dava mostras de inegável idiotice mental. Por outro lado, nem o Bloco, nem o PCP parecem recuperar do significativo tombo, que deram, quando decidiram derrubar o governo anterior. Ainda que, com outra dimensão, nem um, nem outro parecem ter compreendido as causas, nem as consequências, da absurda leviandade cometida.
Para um confesso socialista inquieto fica alguma ambígua aceitação da prudência reivindicada por Costa e Medina para justificarem esta nova austeridade, mas também a desconfiança quanto aos números apresentados para justificarem o corte de mais de mil milhões de euros aos pensionistas a partir de 2024 ou a quebra abrupta de rendimentos para os funcionários públicos. Sobretudo se, paralelamente, se poupam medidas fiscais contra os lucros excessivos de algumas empresas ou se quer descer o IRC a eito para todos os patrões. Como reage Daniel Oliveira no «Expresso» “é nestes momentos que ser de esquerda deveria contar”.
Do semanário pertencente à família Balsemão também vale a pena referenciar o excelente artigo do antigo deputado do PCP António Filipe, que constata não haver culto de personalidade mais excessivo do que o da rainha acabada de enterrar. Acrescento eu que nem Estaline, nem os coreanos Kims, mereceram tão grande impacto mediático, servido globalmente como indigesta pastilha dias a fio a quem se reivindica dos princípios republicanos.
Voltando ao texto em causa, estranha-se a subserviente declaração de luto nacional por três dias, como se Isabel II equivalesse em importância a Mário Soares ou a Jorge Sampaio, tanto mais que, ao longo da nossa História, e a respeito da tão incensada aliança centenária, “o Reino Unido nunca teve outro objetivo que não fosse a defesa dos seus exclusivos interesses e o aumento da sua esfera de influência mesmo que à custa da humilhação do seu mais velho aliado.” Senão veja-se a forma como os ingleses nos obrigaram a abandonar os têxteis nacionais, em favor dos seus, com o Tratado de Methuen em 1703, quiseram sujeitar Portugal a ocupação colonial aquando da ida da Corte para o Brasil na sequência da invasão napoleónica, não deixando de assassinar Gomes Freire de Andrade e outros, que os queriam ver pelas costas ou, enfim, com o Ultimato inerente ao Mapa cor-de-rosa.
Olhando para esses episódios só na esdrúxula mente do inquilino de Belém nós temos a dever aos ingleses o que quer que seja, tanto mais que foi Churchill e seus sucessores quem quiseram manter a ditadura salazarista, quando os norteava a agudização das suas estratégias para a Guerra Fria.
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