A distância entre Lisboa e Lviv, cidade ucraniana junto à fronteira polaca, é de cerca de três mil quilómetros. O que terá dado uma ideia do espanto dos que ouviram alguns meios de comunicação social a anunciarem, como prova do sucesso da contraofensiva em curso, a perda de três mil quilómetros de territórios por parte do exército russo. Homessa! Num par de dias os militares às ordens de Zelenski teriam reconquistado quase tanto espaço geográfico quanto o ocupado por boa parte da Europa?
Ouvi depois quem corrigisse a informação esclarecendo tratarem-se de quilómetros quadrados, ou seja algo semelhante a um retângulo com 60 kms de comprimento e 50 kms de largura. Comparativamente com o distrito de ´Setúbal estaríamos a falar de uma área semelhante a 60% do que ele ocupa. O que é esclarecedor sobre a contradição entre o espalhafato mediático sobre o “sucesso” ucraniano e uma realidade, que poderá reverter-se logo a seguir, porque adivinha-se o quanto o regime de Kiev precisava de uma bravata assim para justificar novos pedidos de apoios financeiros e de armamento a um Ocidente. É que existe um evidente cansaço europeu pelo esforço económico e social, depois repercutido no insucesso sucessivo dos que têm estado ao leme dos respetivos governos nos últimos meses - e assim sucedeu agora na Suécia - porque os eleitorados optam por quem supostamente não seriam responsáveis diretos pela inflação galopante, mesmo isso significando a escolha de alternativas ainda piores do que as anteriores.
Compreende-se assim o teor do editorial de Manuel de Carvalho no «Público» de hoje. Afinal o entusiástico atlantista, que alinhou de início no apoio a Zelenski vem agora manifestar o desejo de o ver sentar-se à mesa das negociações com Putin, aceitando a perda da Crimeia por troca com a soberania sobre todo o Donbass. Porque tem a noção de quanto pode ser efémero esta operação ucraniana até sabendo nós quanto o general inverno costuma favorecer tradicionalmente os russos.
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