quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Um certo sabor a pouco...

 


1. Pressenti-o quando ouvi António Costa a dar a suposta boa notícia quanto à forma como os pensionistas seriam contemplados com o pacote de apoios formatado para corresponder à inflação: sem pudor os que lhes tinham roubado dois meses de pensões por altura da aplicação das medidas aconselhadas pela troika e depois pretendiam espoliá-los de mais 600 milhões de euros, seriam dos que mais vociferariam. Montenegro, que foi um dócil animal de companhia de Passos Coelho, é capaz de mandar às malvas a História e assumir-se como virgem virtuosa capaz de olhar para os “velhinhos” com a expressão compungida de quem só deles quer recuperar os fugidios votos.

Significa isto que estou confortável com as propostas de António Costa? Claro que não: lembrando as palavras cantadas por Sérgio Godinho, elas souberam-me a pouco, a pouquíssimo. Confesso até que, quando em 2014 me empenhei a sério para que António Costa viesse a ser líder do meu partido, e depois primeiro-ministro, não esperaria que, garantidos esses objetivos, estivesse oito anos depois sem médico de família, que o novo hospital do Seixal continuasse a ser uma miragem ou a pensão de reforma não viria a respeitar a fórmula aprovada em 2008 na reforma de Vieira da Silva. E que não impusesse a mais do que justa windfall tax contra os que, indecentemente, estão a lucrar com as circunstâncias, que a todos os demais empobrecem.

Mas, olhando para as alternativas, tenho de convir que, a grande distância, as insuficiências de António Costa são preferíveis às malfeitorias que sofreria por obra e (des)graça dos que agora contra ele arengam. Preferia defender Costa pelo que de bem vai fazendo mas, nalgumas das suas decisões governativas, quedo-me por não causar tantos danos quanto os que adviriam da concorrência.

2. Cadáver adiado, Isabel Jonet voltou a assombrar-nos com mais uma pérola ao enfatizar a importância de se ensinarem os pobrezinhos a gastarem com sensatez os 125 euros, que lhes vão ser oferecidos pelo pacote anunciado por António Costa. Com sentido de oportunidade Luísa Semedo lembra que, para aquela criatura, “o bom pobre de família não pode ter prazeres, precisa de sofrer senão não entrará no céu e não se poderá ficar a rir do rico que foi parvo por ter preferido o paraíso terrestre”.

3. Sem querer acreditar na possibilidade de Donald Trump ficar verdadeiramente encalacrado judicialmente antes de se anunciar recandidato à Casa Branca, as notícias nesse sentido vão-se somando: agora ficou a saber-se que levara para casa os documentos com segredos nucleares, protegidos a sete chaves dos mais altos funcionários do serviços de segurança do Estado norte-americano.

4. Não tendo qualquer simpatia por Gorbatchov soube-lhe da morte sem estados de alma: foi mais uma daquelas notícias, que me deixou rotundamente indiferente. Mas considero perspicaz a reação de Daniel Oliveira sobre quem chegara a alimentar inocentes ilusões: “o problema de Gorbatchov não foi pôr fim à URSS e muito menos à ditadura de partido único. Foi não ter força política para que uma coisa decente para o seu povo nascesse no seu lugar. Quem celebra Gorbatchov não percebe que Putin não caiu do céu. Quem diz que ele foi coveiro da URSS não percebe que só o foi porque estava no cemitério quando a URSS morreu. A morte foi natural.”

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