sábado, 17 de setembro de 2022

Eu não estou de luto!

 

Se pensador maior alertou para os perigos do esquerdismo como doença infantil a evitar, outra vai-se revelando este século como exemplo não menos gravoso: o da esquerda aspirar a ver-se amada pela classe social contra a qual deverá implementar políticas consequentes.

Viu-se isso nos seis anos de governo de José Sócrates de que me ficou imagem inesquecível desse paradoxo: o ufano primeiro-ministro ufano a carregar no botão, que implodiu as torres de Tróia, perante um sisudo Belmiro de Azevedo de quem, em vez de colher simpatias, sempre trataria de o desqualificar.

Se durante a Geringonça, António Costa pareceu avesso a replicar essa conduta - muito embora a obsessão com a dívida denunciasse a adesão a uma preocupação tradicional das direitas! - a maioria absoluta libertou-lhe os piores sintomas desse recalcado e inexplicável complexo de inferioridade levando-o a procurar assertiva concordância junto daqueles que, em privado, dirão dele o que Maomé não se atreveu a dizer do toucinho. Agora já não é só a indigitação de Fernando Medina - outro aparente seguidor da mesma tentação em manter o socialismo bem fechado a sete chaves na gaveta em nome de um falacioso reformismo «social-democrata», para manter as coisas - ou seja as injustiças e desigualdades - tais quais estão, que faz temer o pior.

Sinal menor, mas revelador desse modelo de pensamento é o da declaração de três dias de luto nacional em nome da morte de Isabel II, equiparando-a em importância a Mário Soares ou a Jorge Sampaio.

Porquê? Ninguém foi capaz de dar explicação sensata sobre tão absurda decisão! Talvez porque o antigo assalariado da Casa de Bragança assim o exigiu a partir do Palácio de Belém ou nalguma escala entre as suas intermináveis viagens para aqui e para acolá? A ser assim a interpretação é exatamente a mesma: na subserviência a Marcelo, o governo pessoaliza essa bajulação à classe social representada pelas várias direitas.

Não deixa assim de ser-me particularmente incómodo a excecional concordância com o que, hoje, escreve Manuel Carvalho no «Público» ao considerar que “a igualdade de tratamento entre uma rainha britânica e Presidentes que lutaram pela democracia e exerceram os mais altos cargos no serviço público não é apenas um sintoma de provincianismo: é um sinal de desrespeito do país para consigo próprio.” 

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