Ontem o jornalista Jorge Almeida Fernandes publicou um texto de opinião interessante sobre os crimes do monstruoso fascista norueguês ao qual se recusa a sequer enunciar o nome. Por isso escolhe uma letra, B., para o designar invocando um apelo do escritor Claudio Magris e um exemplo histórico singular.
A conclusão é pertinente: será justo sabermos o nome do criminoso e desconhecermos o de todas as suas vítimas? Na batalha pela notoriedade macluhaniana será justo facilitarmos o propósito do algoz?
Vale a pena pensar nas questões levantadas neste texto:
“O que este morticínio de seres humanos mostra é a infinita banalidade e idiotia do mal e da violência, tantas vezes mostrados envoltos em sedução. (…) É uma vergonha, embora inevitável, registar na memória o nome do assassino norueguês e não os das vítimas”, comentou no «Corriere della Sera» o escritor italiano Claudio Magris.
Em Julho de 356 a.C. , um anódino Eróstrato incendiou o Templo de Artemisa em Êfeso, de que se dizia ser uma das sete maravilhas do mundo. Assumiu que o fizera como desesperado meio de alcançar a glória. O sacrilégio foi castigado com a morte. Como póstuma punição, os magistrados proibiram os efésios de jamais citarem o seu nome, que foi também apagado de todos os documentos. Mas um historiador de outra cidade nomeou-o, outros o repetiram e Eróstrato entrou na História.
Ninguém conhece o nome do arquitecto que desenhou o templo de Êfeso. Tal como Eróstrato, B está a ganhar. (…)
Voltando a B e citando Magris: “O seu gesto atroz mostra a contínua latência do mal, a possibilidade de se desencadear a qualquer momento; revela a nossa convivência quotidiana, corpo a corpo, com o mal, sempre emboscado e por vezes assustadoramente em acção”.
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