domingo, 13 de abril de 2025

A safra de maio promete

 

1. Dizem os números que os debates entre os partidos candidatos às legislativas têm sido bastante acompanhados pelos eleitores, que neles buscam informação para guiarem as suas escolhas.

Perante aqueles em que Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro já participaram percebe-se porque o segundo se furta a alguns sendo tão abissal a diferença entre o estilo convincente e coerente do primeiro e o atabalhoamento, mesmo acompanhado de algumas táticas manhosas, do segundo. A competência e a visão para o país são tão evidentes no primeiro quanto manifestamente ausentes no segundo. Não admira que, por isso mesmo, as próprias sondagens estejam a refletir a lenta progressão da tendência eleitoral para ser o PS o partido mais votado e Pedro Nuno Santos o indigitado para formar o próximo governo.

E ainda os cestos estão por lavar. A inaudita vindima de maio terá condições para resultar numa pródiga safra para quem para ela tanto, e tão bem, tem trabalhado...

2. O debate, respeitoso senão mesmo amigável, entre a Mariana Mortágua e o Paulo Raimundo traz de volta a questão da divisão entre as esquerdas mais radicais por razões ideológicas, que parecem algo fúteis em função das circunstâncias. Conseguissem juntar-se numa plataforma de entendimento de mínimo divisor comum e não potenciariam os votos, em número de deputados, que lhes dariam maior capacidade parlamentar para fazerem o seu trabalho político? Por exemplo na Madeira não voltariam a ter expressão na respetiva assembleia, e nos Açores não ampliariam a atual dimensão de só contarem com um deputado? Sem esquecer que, juntando-se-lhes os votos no Livre, isso ainda mais facilitado ficaria...

Se faz sentido o Partido Socialista ir sozinho a votos, por ter dimensão bastante para beneficiar dos critérios do método de Hondt, não se percebe porque, nas atuais circunstâncias, as demais esquerdas não se associam ... 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Os pinguins que se cuidem!

 

A fotografia de Trump na capa do Libération de hoje consegue explicitar o que é este seu momento de “glória”: de melenas batidas pelo vento já prenuncia o que se seguirá.

A exemplo de Milei, na Argentina, cuja experiência sociopolítica vai mais avançada nos efeitos danosos de uma ideologia fanática - em desemprego e miséria para boa parte dos que que nele tinham acreditado! - o pato bravo da Casa Branca vê os agricultores em pânico com as consequências do seu volúvel caos e alguns republicanos a verbalizarem mais alto as reservas quanto às consequências políticas, e sobretudo económicas, justificativas da crescente contestação popular, já significativa onde os democratas tiveram melhores votações em novembro, mas igualmente percetível nos Estados então vencidos confortavelmente pelos seus adversários.

Motivo para nos regozijarmos com a brevidade do fenómeno, que equivaleria ao refluxo da vaga de extrema-direita? Não tanto, porque a História ensinou-nos, que os presidentes norte-americanos, quando acossados em casa, decidem lançar ações militares contra os inimigos externos mais a jeito. Por isso os pinguins que se cuidem, embora maiores receios possam ter os gronelandeses, os canadianos enquanto “inimigos” mais à mão para, à falta de demonstrar a capacidade de fazer a América “grande” - em riqueza, em qualidade de vida! - Trump decidir o alargamento das fronteiras para além das que tinham resultado das ações do passado contra o México.

Restará saber se os militares secundarão o seu desvario ou farão o necessário para lhe pôr fim... 

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Vem aí a maré vaza das direitas?

 

Sete mil apoiantes terão sido quantos Marine Le Pen conseguiu arregimentar para um comício parisiense com sabor a flop. Em contraponto foram muitos os milhares que, por todo o mundo, saíram à rua contra Trump e Musk na sequência do que vem sucedendo nestas últimas semanas em Telavive, em Istambul, ou em Buenos Aires, contra outros títeres da extrema-direita. O que justifica a expetativa de estarmos perante o refluxo de uma maré-cheia reacionária confrontada com o abandono de quem se iludiu com as suas mentiras e mistificações.

E, mesmo a direita tradicional começa a sentir-se instável na convicção de se ver num “fim da História” ao estilo Fukuyama em que as esquerdas a quase nada se reduziriam.

Basta ver como, entre nós, reagiram os Castros Almeidas, os Nunos Melos e os Montenegros à apresentação do programa do Partido Socialista.

De repente nem as sondagens mais “trabalhadas” lhes dão ânimo: o pesadelo de um pote novamente inacessível volta a tornar-se tão pertinente quanto o foi a realidade subsequente à noite em que Jerónimo de Sousa veio dizer ao país, que o Partido Socialista só não seria governo se não quisesse. E, como se viu, António Costa veio a querê-lo. Mesmo que, para nosso desgosto, se tenha enleado na inconsequência de não potenciar tudo quanto significou a dita geringonça... 

sábado, 5 de abril de 2025

A imprevisibilidade dos acontecimentos atuais

 

O “tarifão” de Trump veio abanar algumas interpretações dos últimos anos sobre a evolução do capitalismo, que passou da fase selvagem e imperialista para a sociedade do “bem estar” dos Trinta Anos gloriosos, daí evoluindo para o consumismo exacerbado propiciado pela globalização, que tenderia a culminar numa concentração de capital em poucas mãos e na condenação da grande maioria a uma sobrevivência precária.

O ter-se chegado a essa inaudita desigualdade entre os que tudo têm, e os que só ficam com as sobras, redundou no trumpismo. Porque os oligarcas sabem incomportável prosseguir numa direção, que tende a acelerar a contestação coletiva desta realidade. Daí quererem-se enganar os mais crédulos - os “deploráveis” tal qual os crismou Hilary Clinton - com uma mistificação bem construída nos medias  e nas redes sociais.

O regresso do trumpismo aos pressupostos dos finais do século XIX abre um campo de experiências de imprevisíveis resultados: será solução para o capitalismo reinventar-se e, qual fénix moribunda, renascer para mais um ciclo dominador? Ou as realidades ambientais, a par da sempiterna luta de classes, significará um passo adiante para as redentoras revoluções por que há tanto esperamos?

Por agora é altura de comprar as pipocas e pormo-nos a constatar o que resultará de todo esse experimentalismo económico!

sexta-feira, 4 de abril de 2025

O que eu gostarei de ver e ouvir na campanha eleitoral

 

Não sei se Pedro Nuno Santos irá fazê-lo, ou não, mas acredito haver já tanta gente apreensiva com os desvarios trumpistas, que a sua merecida vitória eleitoral não deveria assentar só no trazer à colação os comportamentos nada escrupulosos de Montenegro (de que o episódio do mercado do Bulhão confirmou ser genético e não casual!), mas também em demonstrar como o programa político e económico do Partido Socialista será o mais adequado para responder ao que os vendavais transatlânticos pressuporão em aumento do custo dos bens essenciais bem como a redução das exportações e da atividade económica no seu todo.

Gostarei de ver os indecisos das sondagens a concluírem ser Pedro Nuno Santos o rosto adequado para vencer uma crise que teremos como certa e à qual ficaríamos muito mal entregues se fossem Montenegro e Miranda Sarmento a intentarem-no com o seu estilo de não serem mais do que rodas mandadas de uma engrenagem, que não controlam, nem tentam controlar. 

sábado, 29 de março de 2025

Boicotes, desjacarandados e meninos doentinhos

 

1. Em tempos teria desejado levar a Elza a Nova Iorque para colher o mesmo encanto por mim sentido nos seus museus (o MOMA, o Metropolitan, o Guggenheim), nos teatros da Broadway ou nas clubes de jazz de algumas caves da Downtown. Ou tão-só para calcorrearmos o Central Park reconhecendo muitos dos sítios por onde cirandaram as personagens de alguns filmes do Woody Allen.

Agora o (des)governo avisa quem quer visitar os States para a possibilidade de já não bastar o visto para conseguir ir além do aeroporto. Convenhamos que, com Trump na Casa Branca, o projeto ficaria adiado sine diae mesmo com a Elza capaz de  fazer a viagem.

Numa altura em que os europeus estão ativos a boicotar a Tesla, a Netflix ou a Amazon, turismo para tal geografia deixou de fazer qualquer sentido!

2. Também à Elza tende a passar despercebido o belo espetáculo dos jacarandás em flor, que começam a assim expressarem-se pela capital, e tanto a encantavam.

O nerd, intelectual e fisicamente minorca, que nem soube como ganhou a eleição para autarca da capital, nem tão pouco para ela mostrou a mínima visão de futuro, enredou-se agora numa guerra, que lhe está a correr mal: mais vocacionado para satisfazer a ganância dos “empreendedores” do que para dar satisfação aos interesses da população, aprovou a destruição de umas dezenas de árvores aparecendo a mentir quanto a compromisso assumido pela vereação anterior e alegando a compensação do dano publico com a mais do que duvidosa plantação de mais umas quantas.

Se Fernando Medina foi muito prejudicado pela ignóbil campanha contra a pista para velocípedes na Almirante Reis (que, afinal, lá continuou como devia!), Moedas tende a ver comprometida a ambição de mais altos voos (substituir Montenegro? presidenciável em 2030?) com a mais do que justificada luta em prol dos jacarandás.

3. Um clássico dos miúdos parvos é fazerem-se de doentes, quando as coisas lhes correm para o torto. É assim que procuram suscitar pena em quem temem ver atiçado o desejo de punição para com as suas tropelias.

É isso que lembra esta passagem do luisinho pelo Hospital de Santa Maria: coitadinho do menino acometido de arritmias no mesmo diaem que se revelaram os pareceres para que mais um construtor civil do tipo “a gente depois ajeita” ganhasse uns bons milhares a mais num trabalho para a câmara de Espinho tuteada por um dos seus suspeitos amigos!

sexta-feira, 21 de março de 2025

Deixemo-los pousar!

 

A sondagem do Expresso  desta semana é tão “credível” para os seus promotores, que nem se deram ao trabalho de fazerem a extrapolação do que significariam em percentagens efetivas se os indecisos seguissem as tendências dos que confessam a intenção de votar nesta ou naquela força política. E até dá número mais significativo dos que querem ver Montenegro pelas costas comparando com os que o querem aturar por mais tempo, Mas reconheço que a consulta dá um jeitão  aos apaniguados do ainda governo na comunicação social que, sobre ela perorarão de acordo com os seus pensamentos mágicos e enviesando ainda mais as, já de si, enviesadas conclusões. E até Montenegro & Cª poderão sentir-se confortados nos pesadelos de que se veem provavelmente assombrados perante a possibilidade de voltarem ao merecido anonimato, que a sua má qualidade política, e soberba desenvoltura arrivista, justificam.

Eu que já ando por cá há uns anos - e até nem são precisam ser tantos! - para lembrar que, tal como Pedro Nuno Santos, também António Costa tinha uma péssima imprensa em 2015, quando andava a desafiar António José Seguro para o substituir na liderança do Partido Socialista. Ou que, em janeiro de 2022, toda imprensa ficou em choque com uma maioria absoluta do Partido Socialista, quando trabalhava afanosamente para o que pareciam indiciar as sondagens: uma vitória da direita (que algumas previam), ou, pelo menos, uma disputa eleitoral taco-a-taco.

Deixemo-los pousar. Os hospitais continuam com urgências fechadas, o ministro da Educação teima no aumento das propinas, as casas continuam inacessíveis para a bolsa da maioria dos que delas carecem, e a falta de mês ao fim do ordenado continua a crescer para tantos, que não se livram da pobreza, mesmo deixando-se explorar sem mostrarem a devida indignação.

Atrás de tempos, tempos vêm! E até podem surgir logo depois de 18 de maio.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Meu Deus, como caí tão baixo!

Defeito de ser inveterado cinéfilo: há umas semanas aludia ao exemplo de Barry Lindon para prever a iminente caída em desgraça de Luis Montenegro.

As cenas patéticas do dia 11 na Assembleia da República, quando lhe vimos a expressão carregada pela súbita consciência da queda irremediável, bateu em expressividade a da personagem do filme de Kubrick, quando também se viu com o tapete tirado debaixo dos pés.

Foi nessa altura que lembrei o título de uma divertida comédia italiana da década de 70,  assinada por Luigi  Comencini. Mesmo não tendo direta comparação com os dissabores de Laura Antonelli nesse filme, Montenegro poderia fazer coro  com ela na frase que dava título ao filme: Meu Deus como caí tão baixo!

Por muito que haja quem mostre complacência com o efémero primeiro-ministro, associando-lhe o comportamento na sessão a incompreensível garotada, foi evidente que, acolitado pela sua corte de exegetas, não conseguiu disfarçar a sua falta de escrúpulos. E, quando assim é, a queda prometida é mesmo até ao fundo...

sábado, 8 de março de 2025

Os ataques insidiosos contra os direitos das mulheres

 

Dia Internacional da Mulher com o impensável a ocorrer no outro lado do Atlântico, onde a realidade vai superando aquilo que as mais imaginativas ficções poderiam sugerir enquanto distopias politicas consistentes com os valores expectáveis para o instável presente. Anuncia-se que Trump e sua camarilha querem retirar o direito de voto a alguns milhões de mulheres casadas, sabendo-as mais renitentes aos “encantos” do seu modelo de “engrandecimento” da América.  Bastaria, por exemplo, a disparidade entre o seu apelido na carta de condução com o de recenseada para lhe sonegar o direito ao voto. No fundo, mais uma versão das muitas tentativas republicanas para eliminar do universo eleitoral quem imaginam ser-lhes adverso!

A nova administração está a puxar a corda tão exageradamente para um lado que, provavelmente, acabará por receber o efeito de um ricochete mais eficaz do que as ilusórias reações dos alegados contrabalanços, que poderiam antecipar-se-lhes. Ou será esta a expetativa de um incorrigível Pangloss jamais preparado para aceitar outro tipo de futuro, que não o decorrente das previsões ditadas pelo quase esquecido materialismo dialético?

É um facto: as mulheres chegam ao primeiro quartel deste século numa situação muito mais desfavorável do que o imaginariam as bravas feministas, que lutavam pela igualdade dos seus direitos na época das suas avós. Se parecem algo renitentes a regressarem ao estatuto de fadas do lar, esmorece-lhes a determinação para calarem de vez quem a tal as desejaria fazer voltar. Até quando? 

sexta-feira, 7 de março de 2025

Por enquanto aposto na tripla, mas espero regeringonçar!

 

Vamos para eleições de imprevisíveis resultados.

Se estivéssemos em tempos idos, quando a ética política importava, quer a Aliança Democrática, quer o Chega, seriam fortemente penalizados pelas notícias das semanas mais recentes. E, ao mesmo tempo, o Partido Socialista receberia o prémio de ter alterado a situação económica e social do país, equilibrado as finanças públicas e criado um superavit, que este (des)governo desbaratou com a satisfação de umas quantas reivindicações corporativas. Acresce que, tendo-se agravado ainda mais a crise na habitação, na saúde e na educação, importa valorizar quem estava a implementar soluções, que o quadro eleitoral de há um ano veio cercear.

Não estamos, porém, em tempos normais: o domínio da comunicação social e a atuação de uns quantos infiltrados no ministério público, têm facilitado às direitas a sua ação propagandística, desenvolvendo um rol de mentiras, que têm afastado os prejudicados com as suas politicas - a grande maioria do eleitorado - de quem melhor os pode defender. É essa perversão, que perspetiva a  ingovernabilidade de um país, que parecia destinado a melhor futuro, quando o governo socialista detinha a maioria absoluta.

Nas eleições de maio estaremos perante um dilema: ou os portugueses querem continuar a ser manipulados por quem deles faz idiotas úteis para as suas gananciosas agendas, ou reorientam-se para recuperar aquele que foi o período mais esperançoso  da sua vida recente, aquele em que as esquerdas convergiram e pareceram capazes de marginalizarem as direitas para o histórico caixote de lixo correspondente à das suas menos valias.

Por agora aposto na tripla!

terça-feira, 4 de março de 2025

No palco da ópera bufa

 


Melómano inveterado, olhei para a crise politica suscitada pelo golpe de Marcelo e Lucília Gago e pensei-nos fadados para uma espécie de ópera verista em que os protagonistas (a clique Montenegro) acabariam mal, mas com tempo suficiente para causarem danos significativos nas vítimas dos seus atos: os doentes do SNS, os alunos sem aulas e com propinas aumentadas nos cursos superiores, ou quem não ganha o suficiente para comprar, ou alugar, casa a distância aceitável do seu emprego. Pensionistas e reformados seriam outros alvos da provável privatização da Segurança Social.

Afinal ainda não passou um ano sobre a tomada de posse do governo e eis-nos esclarecidos: em vez  dos acordes melancólicos dos grandes dramas de Verdi ou Donizetti eis-nos confrontados com uma bem mais rocambolesca ópera bufa. Dos casos e casinhos do passado, transitámos para as casas e casinos que, mau grado, a pouca vontade do Ministério Público e da Ordem dos Advogados, tendem a conferir aos comportamentos de Montenegro a gravidade falaciosamente iludida, mas cada vez mais desmascarada.

Agora, a partir da cada vez mais animada plateia, preparamo-nos para as cenas que se seguem: por agora Pedro Nuno Santos, prudente e perspicaz, propicia o lume brando em que melhor estufado ficará quem quis ser mais esperto do que todos quantos com ele partilhavam o palco. Acumular rendimentos dos seus patrocinadores com o exercício do poder é escândalo que fede e não se limpa com sumária barrela!

domingo, 2 de março de 2025

A queda de um (falso) anjinho

 

No Barry Lindon, Kubrick mostrou-nos um exemplo lapidar da má-sina, que costuma precipitar de bem alto os arrivistas, precisamente quando se julgavam inamovíveis  do seu altar.

Bem pode Montenegro vitimizar-se, que não consegue disfarçar o susto, que anda por certo a garantir-lhe noites mal dormidas: por muito que o amigo Amadeu Guerra mostre incomoda indisponibilidade para dizer se vai ou não investigar os estranhos negócios do primeiro-ministro. Como poderá justificar que a PGR não mostre o mesmo empenho que demonstrou contra Sócrates e Manuel Pinho a pretexto de estarem em causa dinheiros recebidos durante o exercício de funções públicas?

Por muito que não caia já - embora o retrato já vá estando esborratado! - Montenegro não se livra do desmascaramento da sua chico espertice.

Quer ele, quer os generosos financiadores sabiam da valia dos pagamentos em função da prometida ascensão ao poder para, daí, lhes servir de facilitadores dos negócios.

Querendo conciliar o exercício do poder com a oportunidade para aumentar significativamente o património pessoal, quase ninguém aceitará que sejam os filhos de Montenegro a alambazarem-se com aquilo que só devem ao progenitor. Qualquer licenciado em Direito, só por manha desconhece não ser possível descartar-se da titularidade de um negócio ao passa-lo para a cara metade com quem tem a comunhão de adquiridos, mantendo-se a mácula na passagem para os filhos. Até porque, para os patrocinadores interessados no retorno do investimento no pai, será esse quem lho garantirá e não os seus putativos fornecedores de serviços.

Estamos em contagem decrescente para a queda de um falso anjinho! 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Chungarias

 

Tarefa fácil a da equipa de criadores de conteúdos, que trabalham para o programa dominical de Ricardo Araújo Pereira: o Chega dá-lhes tanta artilharia, que basta aproveitá-la sem sequer lhes ser necessário acrescentar o lado caricatural.

Por natureza os deputados do partido especializado na bandidagem  - de que dá tão esdrúxulos exemplos! - incumbe-se de dar folga à imaginação dos humoristas.  Na maior parte das vezes basta pôr a falar aquela gente de reles condição para ficarmos esclarecidos quanto ao que lhes move a falta de carácter.

Não é que dê particular atenção ao que dizem Ventura & Cª, mas suspeito que a violência doméstica está longe de ser motivo de sua preocupação: tão amancebados andam com o passado fascista, que não verão grande mal no facto de, há cinquenta anos, ser perfeitamente legal que o marido chegasse a roupa ao pelo da respetiva mulher. Ou que as palmadas servissem de modelo pedagógico para adestrar os meninos e meninas mal comportados.

E, no entanto, como o Público acaba de comprovar num conjunto de excelentes reportagens, hoje em dia e com toda a legislação destinada a dissuadi-la, ainda há quem morra ou fique ferido por obra e graça dos desvarios dos machos ibéricos, que campeiam por aí e não me admiraria fossem em boa parte eleitores do Chega.

Elucidativo o confessado receio - e felizmente desmentido! - de algumas das queixosas serem casadas com agentes da PSP e da GNR e coibirem-se de avançar com a denúncia formal dos seus padecimentos por medo da proteção corporativa em torno dos conjugues.

Cobardes como são (e quantas vezes assassinos!)  os perpetradores da violência doméstica representam o que de pior existe na sociedade portuguesa. Que é aquele que empatiza com André Ventura.

Homofonamente, talvez não seja ilógica a semelhança entre as palavras chunga  e Chega.