quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Decididamente a classe operária norte-americana não vai para o Paraíso

 

Em 1971 - quando eram vários os realizadores italianos dedicados ao esforço militante ainda atualmente assegurado por Nanni Moretti, - Elio Petri rodou um título de boa memória: A Classe Operária vai ao Paraíso. Nele um operário ganhava consciência de classe, mas descobria, tarde demais, que a sua vontade de justiça a nada levava, quando priorizava a intervenção individual em detrimento da solidariedade com os colegas da fábrica.

Confirma-se a constatação de ter Donald Trump ganho as eleições norte-americanas graças ao apoio das classes trabalhadoras, que desprezam os sindicatos e têm sonhos de grandeza com uma América efetivamente cada vez mais fraca, porque pasto da ganância dos seus plutocratas. Qualquer observador distanciado dos States considerará esdrúxula a conivência dos que vestem fato-macaco com Elon Musk ou Jeff Bezos mas a hábil concertação dos algoritmos e das televisões por cabo, permitiu que a extrema-direita chegasse aos seus fins: o de alcançar a ocupação plena dos vários patamares de poder das instituições  para impor a sua agenda hiperconservadora.

Este pode ser, parafraseando Sophia, o tal tempo dos chacais em que é densa a noite, pesada de amargura. Mas, como lembrava um geriatra brasileiro, que ouço amiúde como conselheiro para a função de cuidador da Elza, nada adianta carpirmo-nos dos problemas. Eles estão aí para serem resolvidos. E, a exemplo do que Marx fez no seu tempo, talvez esta seja a oportunidade para multiplicar as cabeças capazes de pensarem fora da caixa e encontrarem novas soluções para o sempiterno objetivo de criar uma Humanidade decente, com mais justiça e igualdade entre quem depara com o maior desafio das suas vidas: tornar habitável um planeta, que tende a descambar na mais desesperante agonia. 

1 comentário:

  1. Podíamos voltar ao tempo do regime censitário do liberalismo monárquico. Por exemplo, só tem direito de voto quem tem um ordenado líquido, digamos, de 3000 euros líquidos e, no mínimo uma licenciatura. Assim evitávamos populismos, um pouco como no século XIX, quando os analfabetos não podiam votar não fossem eles ir trás do que os padres diziam.

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