1. Na Visão da semana passada surgia uma interessante entrevista com Don Winslow, conhecido escritor de policiais, que iniciou uma sabática para investir o talento narrativo no esforço de bloquear o acesso dos trumpistas, e dos republicanos em geral, ao poder.
Faz sentido o que defende: “uma boa parte da política é sobre quem controla a narrativa” e “a pessoa que conta a história mais convincente é o vencedor”. Mesmo que assim relativize a lógica marxista de tudo explicar pela dinâmica da luta de classes. Mas, se José Mário Branco defendia que a cantiga pode ser uma arma, o autor norte-americano parece convencido dessa mesma urgência em criar narrativas, que combatam eficazmente as que, mentirosamente, provém da extrema-direita norte-americana. E convenhamos que também precisaríamos de uns quantos Winslows lusos para estilhaçarem a retórica ruidosa das réplicas locais desse vírus político de além-Atlântico.
2. Na mesma publicação Rui Tavares Guedes também estabelece um paralelismo pertinente entre o que se passa na Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP e os McGuffins dos filmes de Alfred Hitchcock. E explica o que significa essa expressão, que os cinéfilos aprenderam a associar à melhor forma do mestre do suspense em conseguir esse tipo de efeito: “um objeto ou pessoa que, embora sem importância alguma, acaba por funcionar como motor do enredo e motivar as ações das personagens”, mesmo sem qualquer relevância para o que será o final da história.
O McGuffin também corresponde à expressão lusa de encher chouriços, que nenhuma importância tem, mas adia interminavelmente o que seria de mais curta duração.
Por isso mesmo, e sem nada de substancial para apresentarem como propostas para melhorarem a vida das pessoas, as oposições - com a honrosa exceção dos comunistas! - tentam manter esse palco ativo tanto tempo quanto possível. Mesmo que em nada corresponda ao motivo porque foi criado: o de discutir as estratégias políticas e empresariais da companhia aérea nacional nos últimos anos...
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