terça-feira, 4 de abril de 2023

Todos em concorrência, claro!

 

Excelente o artigo de Ricardo Paes Mamede no «Público» de ontem - “O neoliberalismo não nos faz bem” - que deveria ser de leitura obrigatória para todos quantos estudam as ciências políticas e económicas, se não mesmo para os alunos do ensino secundário, que possam revelar-se permeáveis às ilusões espalhadas na imprensa ou nos cartazes a propósito de uma doutrina já só envergonhadamente assumida por quantos lhe garantem a prosélita divulgação.

No texto Mamede dissocia o neoliberalismo do laissez faire, que defendia a redução do Estado à sua mínima expressão, porque a mirífica “mão invisível” cuidaria de formar virtuosos equilíbrios sociais ao mesmo tempo, que garantiria a prosperidade coletiva. Que assim não foi no século XIX, e muito menos o é possível no século XXI, concluíram-no os apaniguados de Milton Friedman que, mesmo sem o assumirem, passaram a apostar num Estado forte apenas vocacionado para facilitar as estratégias de quem controla os mercados.

Defendendo as vantagens da concorrência sem freios viram-se todos contra todos de modo a pregar uma estaca no Estado providencial cujas funções sociais - mormente na habitação, na saúde, na educação sejam abandonadas e transformadas em mercadorias fadadas para garantirem lucros a quem as organiza enquanto tal. E impondo aos governos a redução dos direitos e rendimentos de quem trabalha, permitindo aos patrões uma permanente chantagem sobre quem precariamente se vê esbulhado das mais-valias que produz.

Segundo Ricardo Paes Mamede trata-se de “um Estado que amarra as próprias mãos, delegando o poder de criar dinheiro em bancos centrais sem controlo democrático e colocando-se à mercê dos investidores privados para se financiar, mesmo no meio das crises financeiras mais graves. Todos em concorrência, claro.”

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