terça-feira, 18 de abril de 2023

Quando os abutres se refastelam

 

Estes têm sido dias de fartança para as direitas mediáticas, que não têm poupado tempo de antena, e desfile de comentadores, para condenar ao opróbrio dois inimigos de estimação, que entendem particularmente vulneráveis. Razão para ler com particular interesse a sua defesa em artigos de opinião que, hélas, garantem reduzido contraditório porque apenas limitado aos seus leitores.

Ricardo Paes Mamede defende a honra de Hugo Mendes, que tem sido classificado de idiota para cima apesar do seu notável curriculum académico - “foi o melhor aluno da sua licenciatura, doutorando numa universidade inglesa de referência (programa que abandonou para integrar um gabinete ministerial em que acreditava), investigador académico e organizador de iniciativas de formação para assessores políticos de diferentes partidos.”

Tem sido, de facto, indecorosa a reação de todos quantos a ele se têm referido sordidamente, incluindo muitos socialistas, que nem sequer se atêm a questionar o mais intrigante no caso da viagem de Marcelo: quem terá contactado a agência de viagens para procurar obter da TAP a mudança da data do voo entre Moçambique e Lisboa? É que a CEO da empresa e o secretário de Estado mais não foram do que instados a considerarem essa possibilidade sem se lhes poderem atribuir as responsabilidades de a terem imaginado de motu proprio.

Ademais, no seu artigo, Ricardo Paes Mamede também sugere o óbvio: fossem os que atacam Hugo Mendes sujeitos ao mesmo escrutínio bisbilhoteiro quanto à sua correspondência pessoal decerto “passariam vergonhas dignas de mergulhar num buraco fundo e não sair de lá tão cedo”.

Há depois o assassínio de carácter contra Boaventura Sousa Santos, que o priva de qualquer direito  quanto à presunção de inocência por parte de quem legitimamente podemos questionar até que ponto não move o despeito de não terem visto satisfeitas as expetativas de carreira num meio académico caracterizado pela precariedade laboral e o vale tudo para nela ser bem sucedido.

Olhando para o desvario mediático sobre o caso, Pedro Abreu assemelha-o ao da Revolução Cultural dos finais dos anos sessenta, quando foram afixados dazibaos nas paredes para desgraçarem a vida de milhões de chineses. Porque o fundamento das “investigadoras”, que publicaram o artigo (nada) científico na desconhecida revista internacional, agora tão publicitada, foram precisamente uns graffitis afixados nas paredes das casas de banho da universidade de Coimbra e destinados a servirem de “arma de mesquinhas vinganças pessoais e humilhação pública dos acusados”. 

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