quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Futuros bonançosos vs. passados enquistados

A História dos povos tem demonstrado que uma das mais persistentes diferenças entre as esquerdas e as direitas é a de que enquanto estas não conseguem desviar-se dos paradigmas do passado («as coisas continuarão a ser como são» é um dos seus mais enquistados lemas!), aquelas têm aquilo que o poeta António Machado definiu como os olhos carregados de futuro.
Vem isto a propósito do debate parlamentar de hoje em que António Costa apresenta o  Roteiro do Conhecimento e da Inovação pelo qual o governo pretende estimular essa orientação para o que será a nossa sociedade no médio e no longo prazo e para o qual as universidades (nomeadamente as do interior do país, onde tanto importa combater a desertificação!) terão papel determinante.
É essa mesma preocupação com o futuro, que levou António Costa a defender o reforço da contribuição para a União Europeia, mormente através de impostos sobre as plataformas digitais, as empresas poluentes e as transações financeiras internacionais. Muito embora eu próprio tenha visto esmorecido o europeísmo de que era  assumido defensor nos anos 90, compreendo que se deva dar à Europa a oportunidade de negar a sua condição de continente velho, ultrapassado sobretudo pelos tigres asiáticos. Que haja quem não queira ver isso, colando-se às extremas-direitas populistas, só se pode lamentar, muito embora seja asizado reconhecer o carácter quase sempre efémero desse tipo de fenómenos políticos. Mas o mais estranho é o que Rui Tavares constata a propósito das posições manifestadas dentro do nosso retângulo atlântico por dois deputados europeus tão diferentes, quanto o são João Ferreira (PCP) e Nuno Melo (CDS): “deve haver qualquer coisa estranha no tempo frio e enevoado de Bruxelas. Ou então, sei lá, na proximidade a um qualquer microfone de um órgão de comunicação social português. Só isso explica que os eurodeputados que votam a favor de impostos europeus lá fora consigam tão rapidamente encontrar forma de se tornarem aguerridamente contra tais impostos quando falam cá para dentro.”
No caso do deputado comunista podemo-nos questionar se terá aderido à ironia assassina de Jerónimo de Sousa que, a propósito do afã reivindicativo do líder da UGT se mostrara surpreendido na semana transata com essa pressa em querer anunciar greves acaso não se verifiquem aumentos na função pública. Será que João Ferreira não queria dizer o que as suas palavras deixaram transparecer ou confirmou a tendência para a fácil demagogia, aqui e além pressentida nas suas posições públicas?
 Tendo em conta a honestidade intelectual, que o secretário-geral comunista sempre revela a referida «surpresa» só pôde ser entendida como uma eficiente e violenta farpa no habitual oportunismo de Carlos Silva. E, porque este tanto se «notabilizou» pela negativa numas jornadas parlamentares do CDS em que disse raios e coriscos da intervenção de militantes comunistas na Autoeuropa, cabe aqui reconhecer (eu próprio em dada altura me pronunciei contra o aparente aventureirismo de uma percentagem significativa de trabalhadores da fábrica de Palmela!) se eles não têm razão efetiva em defenderem um horário de trabalho, que não contemple fins-de-semana. É que se a administração não consegue organizar logisticamente o fornecimento de peças de forma a não se verificarem pausas forçadas nas linhas de produção, para que está com tanta determinação a pretender que os trabalhadores se esqueçam de alguns dos seus direitos á luz da legislação laboral?

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