quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Quem está a ganhar e a perder com a guerra na Ucrânia?

 

Hoje 90% das mercadorias do comércio global são transportadas por via marítima em contentores de cores estandardizadas. Mas acontece que essa padronização, facilitadora da multiplicação de trocas, pode engripar-se como sucedeu durante a epidemia do covid, quando os portos asiáticos pararam a atividade e a Europa sentiu, quase de imediato, uma penúria em bens e produtos essenciais, não só tão banais como o papel ou o paracetamol, mas sobretudo com efeitos nas cadeias de produção de muitas fábricas - a Autoeuropa foi só um dos muitos exemplos - que pararam semanas a fio com os trabalhadores a só não perderem os empregos porque os Estados garantiram-lhos à custa de avultados apoios para ficarem inativos. Daí que, a nível mundial, o PIB tenha baixado 3% em 2020.

A guerra na Ucrânia voltou a perturbar a economia mundial, significativamente globalizada pois, em apenas cinquenta anos (1970–2020), multiplicou por sessenta o valor suscitado por esse comércio.

Se em 2021 a recuperação foi animadora (+6%), ela voltou a baixar em 2022 ao ficar-se pelos 3,1%, repetida em dimensão semelhante em 2023.

É nas energias fósseis e nos cereais, que o impacto da guerra no sudeste europeu conheceu maior impacto. Fiquemo-nos hoje pelas primeiras.

A Europa foi a principal prejudicada pela crise dos hidrocarbonetos dada a dependência da Rússia - até então 3º maior fornecedor mundial em petróleo e 1º em gás -, conhecendo acentuada inflação, quando a cotação do barril passou de 17 dólares em 2020 para 115 em 2022, e a do gás evoluiu de 34 dólares/MWh em junho de 2021 para 310 em agosto de 2022.

Esse aumento no preço dos combustíveis implicou o dos bens essenciais em todo o continente. Entre janeiro e outubro de 2022 esse valor atingiu os 36%, condicionando as exportações.

A Europa é, até ver, a grande perdedora dessa guerra. Em contraponto diversos países saíram beneficiados com essa situação: os treze membros da OPEP - entre os quais a Venezuela, Angola, a Nigéria ou os do Golfo Pérsico—embolsaram receitas record em 2022 -  907 mil milhões de dólares em comparação com os 320 auferidos em 2020.

Os EUA também são os grandes beneficiados com a guerra na Ucrânia ao substituir os russos como grande fornecedor de gás natural. A China e a Índia, os maiores clientes do petróleo russo, também saíram a ganhar, mormente a segunda como intermediária entre os proscritos russos e os mercados de que foram embargados, mas aos quais continuam a chegar os seus hidrocarbonetos sob essa fingidora cobertura.

Em suma o comércio dos hidrocarbonetos reorganizou-se durante estes dois anos de conflito, surgindo como particularmente lucrativos para a Noruega, o Qatar, o Azerbeijão e os EUA, enquanto a Rússia manteve a produção e as receitas com o aumento significativo de vendas à China é à Índia.

 E, mais do que os países em si, as principais beneficiadas com a situação internacional são as petrolíferas - a ExxonMobil, a Chevron, a BP, a Shell e a Total - todas ocidentais que, em 2022, bateram todos os records com lucros da ordem dos 182 biliões de dólares.

1 comentário:

  1. https://estatuadesal.com/2024/02/27/a-cia-construiu-12-bases-secretas-de-espionagem-na-ucrania-e-travou-uma-guerra-sombria-na-ultima-decada-confirma-o-nyt/

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