segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A decifração dos números do desemprego

Atualmente existem 26 milhões de europeus desempregados, que representam a demonstração do fracasso económico, social e político dos que têm governado nos últimos anos.
Mas será que esses elevados índices de desemprego têm a ver com a alegada falta de flexibilidade do mercado laboral ou com os custos elevados do trabalho? São muitas as evidências que comprovam o carácter falacioso desses argumentos. O que parece óbvio é o agravamento dessa crise por conta da aplicação de receitas austeritárias.
Tornam-se, por isso mesmo, mais audíveis as propostas de quantos apostam noutro tipo de sociedade, em que as energias não renováveis sejam preteridas por uma economia verde e onde o trabalho seja um bem melhor distribuído.
O documentário «Déchiffrage», que fala de tudo isso, e foi realizado em 2013 por Bruno Masi e Jacques Goldstein, recorre a arquivos, animações e entrevistas sobre tudo quanto caracteriza e origina o desemprego e as soluções possíveis para o resolver. 

A Saúde que merecemos

A entrevista com António Correia de Campos inserida no «Público» deste domingo merece ser lida com atenção, mas fica aqui - para quem a não leu! - uma breve síntese.
Sobre paulo macedo vale a pena esclarecer a razão do brilharete por ele conseguido na redução dos custos dos medicamentos: teve a sorte de beneficiar da perda da patente pelas farmacêuticas, que vendiam os fármacos mais procurados no mercado. Mas a sua intervenção sempre foi orientada para o benefício da medicina privada em detrimento da do serviço público com aquela a expandir-se por todo o lado. Por exemplo o Hospital de Viseu estará em risco de perder muitos dos seus médicos em favor da nova unidade hospitalar privada aí instalada.
Mas será verdadeira a tese de serem melhores os cuidados médicos nas unidades privadas do que nas públicas? Trata-se de um mito, que importa superar, porque as primeiras ficam com o filet mignon e despacham para o serviço público todos os casos, que impliquem mais prejuízo do que lucro.
Outra realidade a alterar é a do consumo exagerado de medicamentos em Portugal, ainda fruto da “cultura” segundo a qual um bom médico é o que prescreve muitos remédios. Quando o contrário será, muito provavelmente, a opção mais asizada.
Teremos assim um novo governo, que enfrentará uma pesada herança do atual - que acumulou um passivo entre 1,5 e 1,6 mil milhões de euros no setor da saúde - e que fez contas para exequibilizar a abertura de cem novas Unidades de Saúde Familiar nos próximos quatro anos, que abrangerão a atribuição de médicos de família a mais 530 mil pessoas.
Um compromisso, que se distingue totalmente da degradação contínua do Serviço Nacional de Saúde testemunhada nestes quatro anos pelos portugueses, que não quererão vê-lo ainda mais posto em causa... 

domingo, 23 de agosto de 2015

Vamos provar-lhes que não chegarão lá!

Regressando ao dia de ontem a frase política, que fica a ecoar nos nossos ouvidos, é a de uma pergunta de António Costa aos jornalistas: se julgariam encontrar na multidão que os rodeava alguém verdadeiramente interessado na presença, ou não, de paulo portas nos debates televisivos.
Esta pré-campanha eleitoral está a ter essa característica: o Partido Socialista apresentou um programa rigoroso, baseado num estudo macroeconómico, cuja qualidade técnica ninguém consegue questionar, e a imprensa continua a fazer o jogo, que mais interessa à direita: centralizar-se em faits divers, que nada acrescentam ao essencial. Pelo contrário até distraem os eleitores do que verdadeiramente lhes deveria interessar: quais as medidas exequíveis - porque fundamentadas em contas que as suportem - capazes de resolverem os principais problemas que se colocam aos portugueses .
António Costa já demonstrou ter soluções para o desemprego, o crescimento da economia e a sustentabilidade da Segurança Social. E, no entanto, olhamos para os telejornais ,e para as primeiras capas dos jornais, e elas são quase totalmente erradicadas por quem teria o dever deontológico de priorizar as informações mais relevantes deste momento político.
É claro que tudo isto não acontece por acaso. Basta olhar para quem são os donos desses meios de (des)informação e está tudo dito. Daí a relevância de, aqui, nas redes sociais e nos blogues, não darmos tréguas a quem pretende chegar às eleições sem ver questionados os seus verdadeiros propósitos ideológicos e os trágicos efeitos das suas políticas.
Há dias alguém explicava o escasso interesse da direita nos debates por considerar preferível fingir-se de morta até às eleições na esperança de alcançar a vitória. 
Cabe-nos o dever de contribuirmos para que tal aposta saia falhada...

Atrás de tempos...

Grandes parangonas no pasquim matinal da Cofina: o ministério público andará agora a explorar nova linha de investigação para procurar matéria incriminatória contra José Sócrates em obras do Parque Escolar e na discussão dos direitos televisivos dos jogos de futebol.
Depois de exploradas tantas pistas, que se têm revelado sucessivamente frustrantes na produção das almejadas provas, rosário teixeira e os seus «muchahos» continuam na pesca à linha, esperançados em recolherem algo, por mínimo que seja, no anzol.
O problema é que os prazos vão-se apertando e eles parecem estar cada vez mais na situação de terem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
Aproxima-se o momento da verdade em que a (in)Justiça ao estilo joana marques vidal conhecerá o merecido escrutínio!  Que deverá contemplar as devidas consequências...

Interrogações pertinentes

No «Expresso» deste fim-de-semana Pedro Santos Guerreiro pergunta inocentemente donde virão os muitos milhões de Álvaro Sobrinho. E para onde foram os muitos milhões desaparecidos do BES Angola.
No entanto, a pergunta de resposta mais interessante seria a de saber porque ele é dono de jornais portugueses cuja principal linha editorial parece ser a de fazer do Partido Socialista o seu permanente bombo da festa com sucessivas mentiras e desinformações…
Quais os interesses, que Sobrinho encabeça e, por isso, pretende garantir a continuação da direita no poder?
Conclua-se ainda com outra pergunta: será que, com o PIB angolano a cair 25% num só ano - aquilo que a Grécia levou seis anos a atingir! - a influência de tal eminência parda manter-se-á incólume?

O que será necessário gastar em benzina!

A falta de vergonha dos ministros deste governo parece não conhecer limites.
A luta dos professores e alunos do Conservatório Nacional agitou as notícias durante umas semanas. Ora, para aparecer nas televisões e fazer de conta que é autor de algo de positivo, nuno crato foi à escola do Bairro Alto anunciar o lançamento do concurso internacional para as obras de requalificação do edifício para … 2016.
Nessa altura, o ministro crato será apenas uma escuríssima nódoa, que estará a ser dificilmente limpa do Ministério de Educação depois dos quatro anos de completa destruição das boas políticas aí anteriormente implementadas.
Mas o crato terá ficado satisfeito com os dois ou três minutos de atenção, que conseguiu de jornalistas, que não fizeram o merecido: virarem-lhe ostensivamente as costas e recusarem-se a colaborar numa “cerimónia”, que foi uma verdadeira palhaçada. 

sábado, 22 de agosto de 2015

A urgência de separar o trigo do joio

Na primeira página do «Expresso» veio a revelação dos contactos de Maria de Belém com o CDS em março transato para tentar colher apoios à sua candidatura presidencial.
Porque será que tal notícia não nos causa admiração, embora contribua para uma melhor avaliação do comportamento da ex-presidente do Partido?
Recordemos o tempo em que António José Seguro não mostrava pressa alguma em contestar o governo de passos coelho, ciente de, assim, o poder lhe cair nas mãos sem grande esforço. Não era necessária visão estratégica nem a defesa de valores bem definidos, porque a direita apodreceria à conta dos efeitos das suas políticas.
Aqueles que continuam despeitados com a derrota nas Primárias bem podem bramar pelo facto de as sondagens de António Costa não se distinguirem das de Seguro, que lavram num erro de palmatória: quando o anterior secretário-geral tinha 36 a 38% nessas previsões estava-se num pico de explicitação desses efeitos comprometedores das políticas da direita, com o Tribunal Constitucional a travar os cortes nas reformas, os efeitos no ensino ou na justiça das políticas de crato e de teixeira da cruz a encherem diariamente os telejornais, onde apareciam sucessivas reportagens sobre jovens a despedirem-se das famílias nos aeroportos. Ademais, a revogada demissão irrevogável de paulo portas ainda estava bem fresca na memória de todos!
Chegaram, entretanto, as eleições europeias e a verdadeira sondagem que conta - a das urnas! - deu um resultado confrangedor ao Partido Socialista, muito abaixo do que prometiam essas sondagens.
Não tivesse havido a substituição de Seguro por António Costa e estaríamos numa situação muito problemática: sem um discurso diferente do da direita, a anterior direção socialista seria cilindrada pela máquina de propaganda ao serviço da coligação PAF, que preparou para esta altura uma manipulação da realidade e dos correspondentes indicadores económicos, que ainda se tornariam muito mais difíceis de contestar do que vem sendo.
Mas que interessaria isso a Seguro e aos seus apoiantes se o importante seria chegar ao poder, mesmo que na condição de muleta mais fraca da coligação da direita?
Não admira, assim, que Maria de Belém se socorresse do CDS: é que o segurismo era  essa ostensiva ausência de valores e de escrúpulos, conquanto garantisse umas lentilhas para os seus principais estrategas.
Essa mesma falta de pudor, que levava Maria de Belém a não ver qualquer problema em conciliar a atividade de deputada numa comissão parlamentar dedicada aos assuntos da Saúde, e ao mesmo tempo receber ordenado do Grupo Espírito Santo para melhor o defender como lobista junto do poder político!
Não admira que se trate da mesma personalidade capaz de sabotar a importante intervenção política de António Costa numa das principais televisões  com o “oportuno” anúncio da sua candidatura, que só aproveitou à direita.
O que se está a passar com o estertor do moribundo segurismo prejudica seriamente os esforços de António Costa em garantir a maioria absoluta, que os portugueses necessitam, mas, por outro lado, também justifica a urgência em separar rapidamente o trigo do joio, para que não saiam frustradas as expectativas criadas pela Agenda para a Década... 

Ai aquela tendência quase incontornável...

“Desaparecidos”, chama-lhes Augusto Santos Silva aos que em tempos idos estiveram tão ativos a combater os governos socialistas e hoje quase não fazem sentir a sua presença.
De facto, que é feito dos precários e indignados, que chegaram a organizar manifestações e grandoladas? Que é feita da acutilância passada do PCP e do Bloco, quando fizeram a vida negra ao anterior governo e, agora, se limitam a ir marcando o ponto em intervenções de circunstância e escassa substância? E o tal jornalismo de investigação, que era tão ativo a denunciar casos de nepotismo e corrupção, e agora se cala perante a falsificação dos números e o eleitoralismo chocante da agenda de inaugurações e de visitas do governo?
Há que o constatar: no terreno só os socialistas estão a lutar consequentemente pelo fim destas políticas austeritárias. Estranhamente os desaparecidos entraram em fase de astenia, porventura a reservarem as energias para quando designarem o governo de António Costa como inimigo de estimação.
Ai esta permanente tendência da esquerda radical em vocacionar-se como colorida tropa fandanga da direita!

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Contra uma candidatura anti-PS

Esta noite irei participar na minha primeira ação de campanha de apoio a António Sampaio da Nóvoa, a que muitas se seguirão e culminarão na sua eleição - certamente que difícil, mas exequível - como próximo Presidente da República.
Este compromisso cívico é motivado pelas razões que, muito esclarecidamente, Nicolau Santos elenca, hoje no «Expresso»,  como justificativas para não se colocar sequer a hipótese de vir a votar em Maria de Belém.
O que está em causa com esta candidatura é a tentativa desesperada de alguns seguristas em inverterem o fluxo de um rio, que se dirige para a foz.
Já não bastavam os obstáculos criados por quem, à esquerda e à direita, quer impedir os socialistas de cumprir a missão, que os portugueses tanto carecem - fazer regressar o país a padrões de desenvolvimento e de limitação das desigualdades, que foram anunciados pela Revolução de Abril! - que, ainda há quem internamente se decida a aumentar os meandros a superar até lá.
Como diz Nicolau Santos, a candidatura de Maria de Belém não nasce dela própria (que nunca revelara motivação para tal!), mas contra a atual direção do PS.  Por vingança (de ter sido substituída por Carlos César na Presidência do Partido), e por isso não enjeitando a facada nas costas evidente no momento do seu anúncio: quando António Costa, em direto na SIC, se esforçava por enfatizar a prioridade das legislativas em relação às presidenciais.
Sem outros apoios, que não sejam os dos seus amigos mais próximos - em que se incluem os despeitados do segurismo - Maria de Belém procura dividir os socialistas e prejudicar o mais possível o seu partido. Porque gostaria de ver o tempo voltar para trás, para esse verão de 2014, em que ainda se sentia alguém acima da pequena estatura mental, que acaba por revelar... 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

São burros ou fazem-se?

O dia foi marcado pela clarificação de António Costa relativamente aos 207 mil empregos a criar em quatro anos de acordo com o exercício macroeconómico, continuamente aferido pelos economistas que o assessoram.
A coligação da direita e a imprensa , que pouco veladamente a apoia, logo quis ver contradição onde ela nunca existiu. Sem se preocupar em dizer o que quer fazer (o que só lhe custaria votos fartos!), a campanha da direita denuncia-se como limitando-se a aviltar as propostas socialistas.
Desde a apresentação do cenário preparado pela equipa liderada por Mário Centeno, que a direita se tem visto em palpos de aranha para contestar uma metodologia de trabalho digna dos maiores encómios e  tecnicamente irrepreensível, como o têm reconhecido os comentadores mais imparciais.
Todos estamos lembrados das quase trinta perguntas endereçadas por marco antónio costa ao largo do Rato, a pedir esclarecimentos e, recebidos estes, logo se fechou num silêncio comprometido.
O problema da estratégia do PS é o de que, sendo o único partido a sustentar o seu programa em cálculos rigorosos, também se torna no único a ser escrutinado a todo o momento por quem o pretenda denegrir.
Ouvem-se poucas críticas, e muito veladas, ao facto de não existir semelhante exercício por parte do PSD e do CDS. E, a acreditarmos nas palavras de paulo portas, a coligação entende como bons os números enviados para Bruxelas, que a Comissão Europeia já contestou quanto à sua credibilidade e onde estão, preto no branco, os 600 milhões de euros, que planeia extorquir aos reformados.
Uma vez mais, foi eloquente a tentativa de ana lourenço em conseguir que, na SIC Notícias, Pedro Santos Guerreiro e Pedro Adão e Silva a acompanhassem na forma jocosa como pretendeu menorizar as declarações de António Costa. Mas foi merecidamente posta no seu lugar pelas palavras sensatas de ambos os comentadores!
Serão paulo portas e ana lourenço insuficientemente dotados de inteligência para compreenderem o que é um cenário macroeconómico? Serão lerdos o bastante para não compreenderem que esse cenário é sempre reaferível, dia após dia, porquanto depende de variáveis igualmente em permanente mutação (o preço do barril do petróleo ou os juros das dívidas soberanas, por exemplo)?
É claro que não são estúpidos, mas querem-se fazer passar por isso. Ou, pior, querem passar atestados de idiotas a quem lhes ouve os argumentos.
António Costa lá teve, pois, de vir clarificar o óbvio: que o PS se compromete com políticas que, se bem aplicadas, darão os resultados previstos no estudo em que se baseiam. E que são opostas nos objetivos e na credibilidade ao chorrilho de vacuidades em que assenta o programa de passos coelho e de paulo portas!

Maldizer o futebolês

Há uns dias atrás o médico Constantino Sakellarides formulava como desejo íntimo que todos quantos passam horas a fio nas televisões a falar futebolês metessem umas férias infindas. E eu dei-lhe totalmente razão!
Em certos dias da semana liga-se a televisão e procura-se nos canais de notícias por cabo algum informação política e lá temos uns senhores de ar empertigado a falar com toda a seriedade o que se limita a ser um espetáculo de vinte e dois tipos a correrem atrás da bola e com um a apitar.
Sim, eu sei que o futebol é um fenómeno de massas e por ele se exorcizam muitas frustrações coletivas. Mas contribuirá ele, no que quer que seja, para a melhoria da nossa sociedade? Ou pelos ódios estúpidos, que suscita, até causa sérios danos  em quem dele sofre consequências diretas ou indiretas de exaltações  repentinas?
Não é que o fenómeno me seja totalmente alheio: também eu, desde miúdo, tenho a minha simpatia clubística. E até fico moderadamente satisfeito se o meu clube ganha algum campeonato. Mas, por exemplo, fico muito mais agradado se o presidente do meu clube vai a Évora visitar José Sócrates do que dez campeonatos, que possa ganhar.
O futebol voltou à dimensão nociva da época fascista em que integrava um dos três «F».
O “faduncho choradinho de tabernas e salões” talvez tenha desmerecido de tal qualificação, porque a própria Amália pôs-se a cantar poetas não propriamente conotados com o regime.
Fátima continua a ser o que é: um espaço de ilusão onde se formulam votos e se pagam promessas de dificuldades, que nada têm a ver com a transcendência de um qualquer deus.
Mas é o futebol, enquanto fenómeno de alienação de massas, a ser o pior dos éfes.
Porque a maioria dos que são capazes de passar horas nos empregos, nos cafés ou nas praças públicas a discutir o talento, ou a falta dele, dos jogadores ou dos treinadores, são aqueles que dizem não se interessar pela política, porque «os políticos são todos iguais!». E, no entanto, são eles quem sofrem amiúde os efeitos do desemprego ou da precariedade, com baixos salários à mistura.
A direita está tão interessada em manter as mentes dos portugueses aferrolhada nessas ilusões, que destacou para esses programas de futebolês muitos dos seus dirigentes. Olha-se para os paineleiros desses programas e vêem-se antigos dirigentes do CDS e do PSD, que terçam os seus argumentos com a mesma carga emotiva com que no passado denegriam as propostas do PS ou dos demais partidos à esquerda. Eles sabem-se igualmente úteis agora, enquanto marionetes dos interesses, que não querem ver os verdadeiros problemas dos portugueses, e dão-se ao prazer e ao proveito de recolherem as correspondentes lentilhas.
Assim, não admira que o melhor de todos os comentadores de política na televisão, Augusto Santos Silva, tenha sido despedido da TVI por se insurgir precisamente contra os tratos de polé recebidos pela sua rubrica, sempre preterida em função das “urgências” futebolísticas.
É por isso que Sakellarides  tem razão: era mandá-los a todos de férias sem bilhete de regresso!

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Eu não queria mas lá tem de ser!

Eu queria manifestamente não falar de presidenciais - tanto mais que cedo tomei a decisão de apoiar Sampaio da Nóvoa e concentrar-me militantemente nas legislativas -, mas os acontecimentos destes últimos dias continuam a suscitar um ruído, que prejudica seriamente a tarefa dos socialistas em alcançarem a maioria absoluta.
Em síntese:
1. temos Maria de Belém empurrada para as presidenciais pelos seguristas para afrontarem  António Costa e sabotarem as possibilidades de vitória nas legislativas.
2. olhando para a biografia da anunciada candidata nada nela revela qualidades, que justifiquem minimamente as pretensões de que a vemos agora tomada. Pelo contrário, além de um historial de prejudicar o PS quando esteve em Macau, e de encarnar um óbvio conflito de interesses entre cargos políticos e empresariais (no grupo  Espírito Santo) nada faz pensar que se possa vir a tornar no Presidente da República, que os portugueses carecem;
3. Vemos Manuel Alegre, que já por duas vezes “conseguiu” a eleição de cavaco silva, a caucionar uma candidatura, que é nitidamente acarinhada pela direita, agora convencida da possibilidade de minimizar, com quem quer eleger para o Palácio de Belém, o condicionamento das políticas do futuro governo;
Perante um anúncio de candidatura que, até no momento escolhido para tal, constituiu uma desconsideração para com António Costa, os socialistas só têm uma alternativa: esforçarem-se por conseguir a maioria absoluta que, na noite das eleições, dê ao próximo primeiro-ministro o ensejo de anunciar o apoio ao candidato ganhador que a esquerda merece...

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A realidade do emprego

Não se trata de estudo encomendado por algum dos partidos da oposição ao atual governo. Pelo contrário, quem o publica é o Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia!
E o que diz ele?
Que os novos empregos criados no setor privado estão a refletir uma acentuada desvalorização salarial com muitos licenciados a serem remunerados com o salário mínimo nacional.
Os economistas concluem por uma evidência: mesmo havendo uma diminuta recuperação na população empregada, o total dos salários por ela auferida continua a decrescer. Se as empresas estão a mostrar alguns ganhos em competitividade conseguem-no à custa do aumento da exploração de quem para elas trabalha.
O estudo mostra que, desde 2011, a percentagem dos trabalhadores a ganhar o salário mínimo cresceu 73,6% , fazendo com que um em cada cinco trabalhadores seja remunerado por tal valor. Se em 2011 isso acontecia com 11,3% dos trabalhadores, hoje  sucede com 19,6%, ou seja quase o dobro.
Ao mesmo tempo a remuneração média de quem trabalha foi diminuindo: em 2011 era 971,5 euros, enquanto em 2014 já descera para 947.
Cresce ainda outra constatação do estudo governamental relativamente à desigualdade de género: em 2014, 25% das mulheres recebiam o salário mínimo, enquanto entre os homens esse peso era de 15%.
Muito embora passos e portas esforcem-se por dar lustro à realidade do emprego em Portugal, ele continua extremamente baço e só melhorará com novas políticas orientadas para o crescimento da economia e a requalificação de quem trabalha.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Uma justiça zarolha

É um facto que muitas das políticas assumidas pelo Partido dos Trabalhadores foram para mim motivo de perplexidade. As alianças pessoais ainda mais me pasmaram, sobretudo quando se tratou da “amizade” entre José Dirceu e miguel relvas.
Mas a atual contestação a Dilma Roussef não pode ser dissociada da guerra intensa movida por alguns dos principais media brasileiros - o canal Globo e a revista Veja - contra os sucessivos mandatos, quer dela, quer de Lula, seu antecessor.
No passado houve boas decisões - o aumento do rendimento das famílias mais pobres - e outras desastrosas, de que foi lapidar exemplo o ruinoso investimento em estádios de futebol para o Mundial de Futebol de 2014.
Há algo que, porém, não deixa de suscitar interrogações: sendo a corrupção um fenómeno transversal ao exercício do poder, seja ele a nível nacional, quer local, porque é que os juízes de língua portuguesa dos dois lados do Atlântico manifestam uma “estranha” predisposição por atiçarem as suas atenções por quem se reclama da esquerda política?
Porque é nela que mais se verifica esse fenómeno? Os factos demonstram o contrário: vai uma enorme distância entre a caixa de robalos de Armando Vara e os inequívocos sinais de riqueza de muitos dos amigos de cavaco silva e de passos coelho!
E, mesmo que - condescendamos momentaneamente a um exercício académico! -  fossem verdadeiras as alegações mirabolantes de carlos alexandre  e de rosário teixeira a respeito de José Sócrates, como é possível comparar os 20 milhões de euros em causa com as incomensuráveis fortunas de alguns figurões, que encabeçam a lista dos mais ricos do país e são especialistas em evasão fiscal e muitos dos que se acotovelam para aparecerem nas primeiras páginas dos jornais ou nas televisões (todas elas mais ou menos alaranjadas!) a dizerem maravilhas da desgovernação destes quatro anos.
O Brasil também conta com o seu juiz vedeta, apostado em tornar-se no herói da turba ululante. Chama-se Sérgio Moro e está a dar substância a uma pequena minoria fascista, que desejaria ver a ditadura militar reposta e a repressão das forças de esquerda - sobretudo do PT - concretizada.
Os danos que este tipo de juízes estão a causar à Democracia ainda estão por contabilizar. Porque não é propriamente a corrupção, que os motiva! Se assim fosse não privilegiariam o espetáculo em detrimento da sigilosa eficiência, que lhes permitiria apresentar resultados irrefutáveis.
Interessados em criar um ambiente pantanoso, eles visam objetivos, que vão muito para além da mera inculpação dos corruptos. A maior parte dos quais - os da área política mais à direita - nem sequer incomodam!
Há, no entanto, motivos para acreditar que não levarão as suas enviesadas intenções avante? Claro que sim: a contragosto os próprios media, que andam a promover as manifestações contra quem, apenas, foi eleita há seis meses, têm de reconhecer que elas estão a perder fôlego e são cada vez mais os que decidem não alimentar uma campanha, que se virará inevitavelmente contra si mesmos. 

Entre agarra que é ladrão e o sacudir da água do capote

Voltando às palavras de marco antónio costa e de paulo portas no Algarve é fácil discernir qual é a lógica do discurso propagandístico assumido pelo PAF nesta campanha eleitoral: trata-se de mais uma variante da velha estratégia do «agarra que é ladrão».
Todos sabemos que a Segurança Social viu agravada a sua sustentabilidade com a redução significativa da população empregada e com a diminuição da massa salarial total por ela usufruída. No entanto, segundo esses  vendedores de banha da cobra é o Partido Socialista quem a põe em causa e, até, a quer a privatizar. Como se a proposta de plafonamento das pensões não fosse uma das mais perigosas propostas contidas no programa da coligação da direita.
E como o marketing político não dá para mais do que recorrer às mais primárias formas de emitir mensagens destinadas aos eleitores, ei-los a quererem sacudir a água do capote em relação a tudo quanto causaram nestes quatro anos do nosso descontentamento e a atribuírem ao governo de José Sócrates a raiz de todos os males por quanto estão os portugueses hoje a sofrer.
Algo que não se estranha, porque parece estar geneticamente inserido no ADN dos ministros da coligação: nem nuno crato teve nada a ver com o caos do ano escolar do ano transato, nem paula teixeira da cruz teve o que quer que fosse com a anarquia dos tribunais suscitada pelo Citius e pela reforma judicial, nem paulo macedo sentiu qualquer responsabilidade pelo estado calamitoso das urgências dos hospitais em muitas épocas do ano. Porque sentiria então passos coelho alguma responsabilidade com tudo quanto fez sofrer os portugueses nestes quatro anos?
Nessa propensão para sacudir a água do capote ei-lo a repetir até à náusea que a culpa foi do governo anterior. Como se esse governo já não tivesse sido escrutinado pelos eleitores em 2011 e como se as suas promessas não tivessem iludido gente influenciável em como chegaríamos a este 2015 com Portugal transformado numa reedição da Terra Prometida.
Será que os eleitores se vão esquecer da crise financeira internacional de 2009, que explica quase tudo quanto aconteceu de negativo até 2011 nas finanças públicas nacionais?
Será que os eleitores ignoram que o tíbio crescimento de que passos coelho e paulo portas tanto se vangloriam se deve quase exclusivamente a Mário Draghi, aos preços do barril do petróleo  e à alavancagem propiciada pela bem mais robusta evolução da generalidade das economias europeias para onde fluem as nossas exportações?
E acaso desconhecem esses mesmos eleitores que, mesmo mantendo-se este crescimento diminuto, levaríamos anos a alcançar o PIB  de 2010?
Quer-me parecer que os gurus brasileiros do PAF andam a tomar os portugueses por tolos! E que irão aprender alguma coisa com os resultados de 4 de outubro! 

Um espantalho no meio de gente entediada

1. Foi o fim-de-semana da festa do Pontal para a qual apenas espreitei nalguns noticiários, que lhe deram imerecida atenção.
Em primeiro lugar, porque o que passos e portas disseram não constituiu nenhuma novidade. Talvez por isso a assistência não se deixou empolgar nem por um, nem por outro, só se vendo rostos entediados com o frete de ali fazerem figura de corpo presente.
Em segundo lugar, devido à sucessão de mentiras, que ambos continuam a afivelar, sem qualquer pingo de vergonha e em completa contradição com a evidência sentida pelos portugueses nestes quatro anos.
Passado um dia já ninguém se lembra do que eles ali discursaram. Como arranque para a campanha eleitoral foi manifestamente pouco. Se é só isso que têm para oferecer aos eleitores, bem merecem que eles lhes votem a maior das indiferenças. Senão mesmo o ódio de tanto os terem prejudicado!
2. A direita conta, porém, com outros fatores a ter em conta. Para já é Maria de Belém a fazer-lhes imenso jeito com a ridícula presunção em vir a ser Presidente.
Não lhe faria mal nenhum um pouco de decoro e de sentido de responsabilidade para com o partido, que a fez sair do anonimato e garantir-lhe uma reputação, que doutra forma não seria previsível ter em função dos seus talentos. Assim, ei-la a prestar-se à triste figura de servir de espantalho para a argumentação da direita em relação às divisões dentro do PS. Mas no mesmo dia em que um notório segurista  António Colaço, escreveu no «Expresso» um autêntico vómito feito de raiva primária contra António Costa e de promoção a por quem gostaria vê-lo substituído - esse outro cacique segurista chamado José Luís Carneiro - já nada nos surpreende.
António Costa irá vencer as eleições não só contra o seu  adversário natural - a coligação PAF - mas, sobretudo contra os que, internamente, ainda não aceitaram a derrota nas Primárias...