quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Quando a resistência funciona

 

Montenegro já sente manifesto temor perante a contestação popular. Ainda não é o clima criado contra Passos Coelho aquando da tentativa de implementação da TSU, mas o primeiro-ministro começa a verse desmascarado por ter vendido gato por lebre nas eleições.

A greve geral anunciada pelas duas centrais sindicais demonstra forte mobilização popular. A manifestação em Lisboa atraiu mais de 100.000 trabalhadores, evidenciando a profunda insatisfação com políticas que priorizam interesses empresariais em detrimento dos direitos laborais. A CGTP e a UGT uniram-se pela primeira vez desde 2013 contra o pacote laboral que precariza o trabalho e desregula horários. Como afirma Tiago Oliveira, líder da CGTP, a greve já é um sucesso ao trazer visibilidade ao tema e forçar o debate público. A fatura está a chegar.

Enquanto isto, António José Seguro recusa-se a envolver-se no debate sobre a reforma laboral, precisamente quando cresce esse protesto. É uma renúncia cívica e política que Manuel Carvalho resume com precisão: "O que quer afinal Seguro? Que os portugueses escolham uma esfinge?" Seguro quer os votos da esquerda sem se comprometer com causas de esquerda. Quer parecer moderado sem ofender a direita. O resultado é a irrelevância política travestida de prudência presidencial. É por isso que merece o desprezo dos socialistas dignos desse nome.

A degradação do SNS prossegue ao ritmo planeado. Houve uma queda abrupta de 16% nas cirurgias oncológicas no último trimestre de 2023, deixando doentes com cancro à espera enquanto o sistema colapsa. Mas há quem lucre com o caos: o dermatologista Miguel Alpalhão faturou mais de 714 mil euros em três anos, auto-aprovando as suas próprias cirurgias 356 vezes e classificando indevidamente 47 como malignas para beneficiar de incentivos financeiros mais elevados. Ana Paula Martins, então administradora do Hospital de Santa Maria, continua no cargo enquanto o colapso avança conforme o desenho deliberado.

No plano internacional, o dinheiro que falta à saúde e à habitação despeja-se na Ucrânia de Zelenski, tão corrupto quanto Putin, mas custando-nos milhares de milhões desviados para contas privadas e para a indústria bélica. Enquanto em Portugal se cortam cirurgias oncológicas e os salários não chegam ao fim do mês, os governos europeus continuam a alimentar a máquina de guerra.

Mas há uma boa notícia que ilumina este quadro sombrio: a libertação do escritor argelino Boualem Sansal, detido em novembro de 2024 e condenado a cinco anos de prisão por exercer a liberdade de expressão. O indulto foi arrancado pela pressão internacional, incluindo pedidos de escritores e líderes políticos de todo o mundo. É prova de que a resistência organizada funciona, de que a solidariedade não é vã. Seja nas ruas de Lisboa contra a precarização, seja na mobilização internacional contra o autoritarismo, a luta compensa e deve continuar.

 

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