Na edição de hoje, o «Público» lembra terem passado dois anos sobre o golpe de Estado, que conjugou Marcelo e o ministério público para derrubarem o governo de António Costa e prepararem o regresso das direitas ao poder.
Conseguido o objetivo essencial - criar as condições para a inversão de tudo quanto de positivo estava a ser lançado para corresponder aos problemas da saúde, da habitação e da qualidade de vida dos portugueses e melhor garantir os interesses privados - a Procuradoria Geral da República não revela qualquer pressa em encerrar suspeitas para as quais não encontra fundamento. No entretanto, a vida dos portugueses agrava-se seriamente.
No mesmo jornal, Helena Pereira assina o editorial e conclui que, “à medida que o tempo passa, torna-se cada vez mais difícil acreditar que este Ministério da Saúde tem condições para reconduzir o sector à estabilidade e eficiência que os utentes do SNS merecem. E tudo isto é trágico.”
Adiada a guerra com os tarefeiros, a ministra procura algum alívio da pressão com o aumento das horas extras para os médicos do SNS já por elas assoberbados, mas tem os prestadores privados a apertarem-lhe também os calos, prometendo-lhe boicote se não lhes facilitar ainda mais os lautos negócios com que vampirizam o serviço público. Demonstrando como os dois anos de montenegrismo têm um saldo tenebroso no setor a Entidade Reguladora da Saúde emitiu relatórios em que se assume um agravamento de 25% no número de utentes à espera de uma consulta de especialidade nos primeiros seis meses deste ano. E que 1,5 milhões de pessoas continuam sem médico de família
Marcelo veio aconselhar um pacto para a saúde mas, como de costume desconsiderando José Luís Carneiro, há sinais de Montenegro querer firmá-lo com o Chega. O que não admira vendo-se o sucedido no rescaldo das eleições autárquicas: quer em Sintra, quer em Tomar, os presidentes laranjas apressaram-se a convidarem vereadores do Chega para com eles colaborarem na desgovernação dos respetivos municípios.
Do «Expresso» vale a pena citar três artigos de opinião, que partem do lamentável estado das coisas e como as esquerdas poderão ganhar nele a alavanca para recuperarem a importância política e social perdida nestes dois anos.
Alexandra Leitão explica porque é mistificatória a obsessão deste governo com o tema da imigração dado o estado calamitoso em que se vai afundando a vida quotidiana dos portugueses: “Se é verdade que é preciso regular a imigração (e existe um amplo consenso quanto a isso), assistimos hoje a um afunilamento da política nacional quase exclusivamente no tema da imigração, numa cedência clara à extrema-direita, porque convém ao Governo para afastar do debate público o caos no SNS, o descalabro na execução do PRR (a recente reprogramação retirou financiamento a investimentos públicos essenciais), a crise da habitação (agravada pela decisão do Governo de vender imóveis públicos com aptidão habitacional e pela falta de habitação pública, quer ao nível nacional, quer local), o retrocesso civilizacional que representa a redução do número de estudantes no ensino superior, a falta de professores no ensino básico e secundário e o aumento da dívida pública.”
Abordando a eleição para mayor de Nova Iorque Daniel Oliveira considera que “Mamdani não venceu porque gritou mais alto. Nem porque fez um excelente trabalho nas redes. Venceu porque não teve medo de dar esperança, essa arma subversiva contra um desalento que definha a democracia, paralisa o povo e engorda a extrema-direita. Quando a esquerda perceber que é disso, e não da gestão cínica da derrota, que as pessoas têm fome, talvez volte a existir. Como disse o novo mayor socialista da capital simbólica do mundo, o futuro não tem de ser uma relíquia do passado.”
E Rui Tavares conclui com a urgência em sacudir do discurso das esquerdas o que é difundido como sendo para elas um tabu: “Vamos parar com esta história de que há temas de que a esquerda não trata porque são temas em que a direita joga em casa. Não há que ter medo de absolutamente nenhum tema. A imigração? A direita quer um país em que sejamos cinco milhões envelhecidos e sem pensões? A criminalidade? Quando a esquerda apresentou as maiores descidas de criminalidade e a insegurança afeta sobretudo os pobres, incluindo as minorias? Tenham paciência. Pior do que as pessoas não concordarem connosco é sentirem que nem temos coragem para falar com elas. Querem dar a volta a isto? Falem simples, falem prático, falem de tudo. E, já agora, falem com todos.”

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