Há dias em que as notícias nacionais e internacionais convergem num mesmo diagnóstico sombrio: a aceleração da barbárie. Hoje é um desses dias.
A nível nacional, Ana Sá Lopes desmonta no «Público» a fraude eleitoral da AD: "Fica claro: a AD vendeu gato por lebre nas eleições. E foram só precisos meia-dúzia de dias para que no programa do Governo já estivessem inscritas as alterações às leis laborais. Só se pode concluir que já estava tudo pensado – mas não foi revelado aos eleitores por medo de represálias nas urnas."
A análise é demolidora. Montenegro e a AD esconderam deliberadamente dos eleitores o que pretendiam fazer. Mentiram por omissão, sabendo que se revelassem as suas verdadeiras intenções perderiam votos. É fraude eleitoral pura e simples.
"A liberalização dos despedimentos que vai acontecer por desaparecer a obrigação de reintegração do trabalhador em caso de despedimento ilegal manda uma mensagem a todo o mundo laboral: a segurança no emprego passa a ser facultativa. A mensagem é reforçada com o aumento do tempo em que um trabalhador pode estar em contrato a prazo."
E conclui: "Quando se iniciou a fase de governos PS em 2015 e o salário mínimo começou a ser sucessivamente aumentado, o PSD durante muito tempo esteve contra. Preferia indexar o aumento do salário mínimo 'à produtividade'. Depois, eventualmente porque durante algum tempo os governos PS foram populares, rendeu-se aos aumentos do salário mínimo. Agora, inverte a marcha em relação aos direitos dos trabalhadores – porque acha que pode e não é penalizado."
É precisamente aqui que reside o perigo. O PSD sente-se impune. Acredita que pode destruir décadas de conquistas laborais sem consequências políticas. A destruição dos direitos dos trabalhadores avança a toda a velocidade, enquanto o país assiste passivamente.
Mas esta destruição não é exclusivamente portuguesa. É global. E tem na questão climática a sua face mais aterradora.
O editorial do Libération sobre a COP 30 que se abre em Belém, no Brasil, é devastador no seu realismo. Longe vai o tempo em que se esperava que uma COP resultasse em avanços, mesmo que simbólicos. Longe vai também 2017, quando a retirada dos EUA do Acordo de Paris provocou uma onda de choque e uma união mundial contra Trump.
Hoje, dado o clima geopolítico, resta apenas esperar que a COP 30 se conclua da forma menos devastadora possível para o ambiente. É preciso contar os raros aliados num mundo totalmente desunido, esperando que os amigos de hoje não se transformem em inimigos amanhã.
A situação piorou drasticamente desde 2017. Os americanos já não se contentam em desvincular-se do Acordo de Paris: partem literalmente em guerra contra os cientistas do clima e a realidade das alterações climáticas, que qualificam, sem vergonha, de "embuste". Tentam infiltrar-se nas instâncias encarregadas de avançar no tema, nomeadamente a COP.
O título escolhido pelo Libération para a sua manchete resume tudo: "aCOPalypse NOW". Sobre a imagem da floresta amazónica em fumo, o jogo de palavras – fusão de "COP" com "Apocalypse" e referência ao clássico do cinema – não podia ser mais certeiro. É literalmente o apocalipse climático que se anuncia, enquanto a maior potência mundial declara guerra à ciência.
Mas nem tudo está perdido, sublinha o jornal. "Os Estados Unidos não se resumem à Casa Branca". E esta adversidade pode – ou deve – forçar a Europa a ser mais combativa e unida. É literalmente uma questão de vida ou de morte.
Aqui reside o paralelo entre as duas destruições. Tanto na frente laboral nacional como na frente climática global, o projeto é o mesmo: liquidar conquistas civilizacionais em nome de interesses privados, mentindo descaradamente sobre as intenções, contando com a passividade dos povos.
Em Portugal, destroem-se direitos laborais que custaram décadas a conquistar. No mundo, destrói-se o planeta que é o único que temos. Em ambos os casos, a estratégia é idêntica: negar a realidade (o PSD nega que está a precarizar; Trump nega as alterações climáticas), atacar quem denuncia (os sindicatos; os cientistas), e avançar o mais depressa possível antes que a resistência se organize.
Mas a resistência começa a dar sinais. A greve geral que UGT e CGTP preparam juntas pela primeira vez desde 2013 mostra que o movimento laboral acorda. E a consciência ambiental, como prova o título proposto por um leitor do Libération durante um debate público, está presente e ativa.
A questão, tanto no plano nacional como no global, é a mesma: chegaremos a tempo? Conseguiremos travar a barbárie antes que seja irreversível?
As próximas semanas e meses dir-nos-ão. Mas uma coisa é certa: a passividade já não é opção. Ou resistimos agora, ou depois será tarde demais. Quer para os direitos dos trabalhadores, quer para o planeta que habitamos.

Espere pela reforma da segurança social. A tenda está montada. Só uns ajustes, diz a mulher do homem dos bónus do Novo Banco. Para costurar estão Jorge Bravo e Carla Castro. De Bruxelas Maria Luiz Albuquerque avisa das modas: saia curta! Só estão à espera do resultado das presidenciais. Se Marques Mendes ou Seguro ganharem chega a tesoura. O almirante não sei o que pensa, mas é o único que lhes mete medo.
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