segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Sobre a seletividade do zelo investigativo

 

Tem sido instrutivo observar o fervor com que certas instituições de justiça se entregam a determinadas investigações. A recente revelação de que o Ministério Público manteve o juiz Ivo Rosa sob vigilância durante três anos, sem encontrar qualquer fundamento para acusação, junta-se a um padrão já conhecido: João Galamba, José Sócrates, tantos outros casos em que a suspeição parece preceder a investigação, em que o estardalhaço mediático substitui a prova.

Não se trata apenas de erros ou excessos pontuais. Trata-se de uma estratégia que escolhe alvos com critério político, que mobiliza recursos do Estado para perseguir quem não convém, enquanto outros setores da vida pública parecem gozar de uma imunidade curiosa. A pergunta que se impõe é simples: onde está este mesmo zelo investigativo quando se trata de outros protagonistas da cena política?

Permitam-me então uma sugestão ao Ministério Público, já que parecem tão dedicados a escutas, vigilâncias e escrutínios minuciosos: porque não aplicam a mesma diligência ao universo do Chega? Se colocassem todos os eleitos, financiadores e apoiantes desse partido sob o mesmo escrutínio que dispensaram ao juiz Ivo Rosa ou a João Galamba, as probabilidades de encontrarem matéria noticiosa seriam, no mínimo, interessantes. Talvez até aparecessem como heróis todos os dias, com um ou mais casos por dia.

Não é preciso ser particularmente perspicaz para perceber que um partido nascido do nada, crescido à boleia do ódio e da demagogia, financiado sabe-se lá como, abrigando figuras com passados mais que duvidosos, oferece um campo fértil para investigação. As ligações financeiras opacas, os discursos que roçam (quando não ultrapassam) os limites da incitação ao ódio, os episódios de violência envolvendo militantes, as suspeitas de enriquecimento ilícito - tudo isto está à vista de quem quiser ver.

Mas, curiosamente, não se vê o mesmo empenho. Não se veem operações mediáticas, escutas tornadas públicas, investigações prolongadas. A justiça, que se quer cega e imparcial, parece ter uma visão seletiva notável. Vê muito bem para um lado, mantém-se estranhamente míope para outro.

O que nos devolve à questão central: o Ministério Público, e o sistema judicial em geral, serve para combater o crime e a corrupção, ou serve para controlar politicamente quem não se alinha com determinados interesses? Quando Pedro Marques Lopes afirma que a Pide ressurgiu e tem no Ministério Público o seu feudo, não está a fazer retórica vazia. Está a nomear uma realidade que se vai tornando cada vez mais evidente: a instrumentalização da justiça como arma política.

Portanto, aqui fica o desafio: se querem mesmo aparecer como heróis impolutos na luta contra o crime e a corrupção, façam um pequenino esforço. Coloquem atrás das grades o magote de meliantes que se esconde no partido de André Ventura. Apliquem aos que esbracejam contra imigrantes, ciganos e minorias o mesmo rigor que aplicam aos que ousam governar pela esquerda.

Ou então tenham, pelo menos, a honestidade de assumir que a balança da justiça tem pesos diferentes conforme quem está em cada prato. 

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