A recente aprovação da lei que proíbe o uso de burqas no espaço público é uma questão falsa, chamada à colação pelo Chega para avivar a agenda mediática depois dos medíocres resultados nas autárquicas. A lei é desproporcional e hipócrita, aplicada a um número ínfimo de mulheres em Portugal, sem representar qualquer ameaça à segurança. A verdadeira motivação não é proteger direitos, mas demonizar uma comunidade.
Paulo Raimundo tem razão quando alerta para a coincidência desta proposta na mesma sessão em que toda a direita se associou para reduzir os impostos aos grandes grupos económicos. Milhões de euros que embolsam, e tão necessários seriam para ajudar a resolverem os principais problemas do país: a saúde, a habitação e o empoderamento do emprego na administração pública, hoje tão carecida de jovens quadros para se modernizar e tornar mais eficaz.
Enquanto isto, o governo prevê um aumento no peso dos impostos indiretos, que pode atingir 53,5% da receita fiscal em 2026. Esta estrutura tributária é regressiva, afetando mais as famílias de baixa renda. Ou seja: aliviam os ricos, mas continuam a apertar os pobres através de uma carga fiscal indireta cada vez mais pesada.
Sobre o Orçamento de Estado para 2026, o Conselho das Finanças Públicas desmontou o pensamento mágico do ministro Sarmento com argumentos que denunciam a sua mais que provada incompetência para o cargo que exerce. O "Centeno do PSD" é uma patética caricatura do original.
O CFP alerta para a possibilidade de sobrestimação da economia. A criação de emprego está em risco, afetando o consumo privado e a atividade empresarial. A previsão de crescimento do PIB de 2,3% para 2026, com uma inversão da relação histórica entre emprego e produtividade, é considerada imprudente, bastando atender ao sucedido na década entre 2014 e 2024, quando o emprego contribuiu com 1,6% para o crescimento médio anual do PIB, enquanto a produtividade apenas garantiu 0,5%. Inverter esta tendência num ano é, no mínimo, wishful thinking.
A deterioração do mercado de trabalho é identificada como o maior risco para a economia portuguesa. O Governo aposta na execução do PRR para estimular o investimento, mas a abordagem resume-se a gastar até ao último cêntimo disponível e reciclar subvenções não utilizadas. A quantidade de incentivos públicos é vasta, mas a eficácia na promoção de uma economia mais produtiva é duvidosa.
Por fim só posso lamentar o apoio do Partido Socialista a António José Seguro nas eleições presidenciais. Será mais uma derrota política a associar às mais recentes. Como diz Pacheco Pereira, "ser mole é o pior que há. Porque a moleza não cria empatia em ninguém". Se a "abstenção violenta" de Seguro era paradigma dessa moleza, a "abstenção exigente" de José Luís Carneiro segue-lhe as pisadas. Não trazendo este capítulo da sua História nada de novo, espera-se que, com outra liderança, o PS volte à matriz que, programaticamente, deve ser a sua: Socialista com maiúscula, sem vergonha de o ser.
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