quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Mudanças na continuidade

 

Há uma década atrás, António José Seguro propunha uma "abstenção violenta" para com o Orçamento de Estado de Passos Coelho. Para com o de Montenegro, José Luís Carneiro aposta numa "abstenção exigente".

Convenhamos que a lógica de complacência com um documento que nada resolve quanto aos grandes problemas nacionais - a saúde, a habitação, a educação e a inflação - e privilegia despudoradamente o interesse dos patrões em detrimento de quem trabalha, é a continuidade de uma linha de atuação contrária à que conviria assumir. Sobretudo dado o quase certo protagonismo da extrema-direita, por um lado, e dos comunistas pelo outro, quando o descontentamento suceder à abulia em que a população caiu, dirigindo culpas na direção errada.

Por muito que António Costa, com os seus erros de cálculo, se tenha posto a jeito para fazer do PS o mau da fita quanto à autoria da dissonância entre a vontade de boa vida e a difícil sobrevivência em que tantos se procuram salvaguardar, a estratégia de Carneiro só agrava o problema.

Pena é que Pedro Nuno Santos tenha vindo à ribalta antes de tempo. O líder socialista capaz de devolver o poder às esquerdas será quem o imitar na determinação firme contra as malfeitorias de quem anda por agora a (des)governar.

Não me identifico igualmente, e por razões óbvias, com a indicação do PS para se votar em António José Seguro nas presidenciais. Não só pelo que revelou quando foi líder do partido, mas sobretudo porque, tíbio nas convicções, não será ele a dissolver a Assembleia quando a crescente contestação social o exigir.

A contragosto, porque preferia depositar o voto noutro candidato que não avançou com a sua candidatura, lá terei de dar a confiança ao Almirante. Este não me deixa dúvidas sobre qual será a sua posição se se confirmar a incompetência do atual governo para manter as tais contas certas e continuar o agravamento das principais frustrações do eleitorado quanto às suas aspirações a um futuro melhor.

Raquel Varela - agora afastada da televisão pública onde era uma das mais interessantes comentadoras - sofrendo o mesmo saneamento também estendido a Ana Drago ou Paulo Pedroso! -, arrisca-se a ser uma espécie de Cassandra contemporânea. Veemente na defesa da sua perspetiva quanto ao futuro, não consegue ser ouvida por quem lhe deveria, de facto, dar atenção. Arrisca-se a ver avançar as piores expectativas sociais e políticas, que poderiam ser mais atempadamente evitadas acaso se antecipassem as suas sugeridas soluções.

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