segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Entre a toalha no chão e o rio a extravasar

 

Agora que as eleições autárquicas vieram - sobretudo! -, confirmar o quanto o Chega é um partido de um homem só, olho para os resultados menos maus do PS e reitero o que, desde o início do consulado de José Luís Carneiro, me tem sugerido. Apesar de lhe admirar o voluntarismo com que se dedicou à campanha eleitoral, percorrendo o país de norte a sul, ilhas incluídas, para agitar o eleitorado cujo apoio António Costa tão levianamente desperdiçou, ele não corresponde ao que o partido e o país precisam. Se ainda não repetiu a ladainha de António José Seguro quanto à "abstenção violenta", a vontade de se fazer interlocutor de Montenegro tem sido patética, dadas as ofensas e as mentiras que este tem, sucessivamente, lançado contra quem poderia ser-lhe interlocutor com mais respeitosa cordialidade.

Montenegro julga-se autossuficiente na minoria parlamentar em que assenta o seu poder, fiado no facto de não haver dissolução à vista nos próximos meses. E por isso dá-se ao luxo de propor um Orçamento de Estado em que as reduções de impostos para os patrões são triplas das propostas para quem trabalha, avisando de seguida não ter margem para negociar o que quer que seja quanto ao seu conteúdo.

Perante esta perspetiva, o secretário-geral do PS lança a toalha ao chão e diz-se disposto a viabilizar um documento que prossegue a destruição do Serviço Nacional de Saúde, nada resolve quanto à crise da habitação e pressupõe a transfiguração das leis laborais de forma a acentuar a precarização de quem ansiaria por assentar o futuro em bases sólidas para consolidar os seus projetos familiares.

Não admira que já se perspetive um movimento social significativo de contestação nas ruas. E o Partido Comunista, que validou nas municipais a tese de melhor lhe valer a corrida na própria pista para recuperar o apoio junto dos mais desfavorecidos, terá nessa estratégia a razão de ser do ansiado ressurgimento.

Que fará então o PS quando a inflação crescente - agudizada pela transferência de verbas para as empresas do complexo militar trumpista - der vontade a multidões crescentes de se manifestarem? Apanha a boleia, tarde e a más horas, ou persiste em estender a mão a um Montenegro para quem a Spinumviva será apenas um parafuso a emperrar uma engrenagem cujo imerecido fulgor se bastará por esta noite eleitoral?

O transitório primeiro-ministro estará agora a dormir sob a esperança de escapar ao garrote que lhe lançam quem secunda a bicéfala ameaça representada por Ventura e Passos Coelho, que trabalham para, vinda essa fase de revolta social, seja a solução musculada a conter um rio que tende a extravasar do leito. Um rio que trará de volta as soluções de esquerda por ora esquecidas por quem as deveria estar a preparar para melhor as liderar. E se Carneiro não tem o perfil necessário para essa missão, Pedro Nuno Santos surgiu demasiado cedo para credibilizar-se como seu condutor. Venha então quem possa encarná-la com outro dinamismo, seja ele Duarte Cordeiro, Miguel Pratas Roque ou quem seja capaz de devolver o PS àquilo que ele deve ser: socialista, de facto!!

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