A "venturização" das direitas é evidente perante tudo quanto aconteceu com a dita Lei da Nacionalidade. Como Mariana Mortágua muito bem sublinhou, a lei obriga os candidatos à "honra" de serem portugueses a deterem conhecimentos ignorados por boa parte dos incultos apoiantes e até eleitos do Chega.
A Lei lá passou com todos os votos das direitas, incluindo o do tal partido da Madeira que, tal como Tózé Seguro, não quer ser de direita nem de esquerda, mas não engana quanto ao que vem quando chega a altura de se definir.
Contra essa venturização, que abrange aquele que Pedro Marques Lopes muito bem identifica como o delegado do Chega no governo de Montenegro - Leitão Amaro, autor de uma definição alternativa para a tese da "grande substituição" -, importa denunciar incessantemente. Não caindo no logro de quem incita a nada dizer, a ignorar, como se uma melga, por não lhe ligarmos, não nos picasse à sua vontade se não a esmagarmos antes.
E essa venturização encontra cúmplices insuspeitos. Marcelo voltou a falar sobre o Serviço Nacional de Saúde. O mesmo Marcelo que, como deputado, votou contra a sua criação. Décadas passadas, e no papel de Presidente da República - cargo em que só pede meças a Cavaco Silva como o pior que a democracia portuguesa tem conhecido -, permite-se agora perorar sobre o assunto sem pôr em causa a incompetência gritante da Ministra da Saúde.
Pior ainda: apela para aquilo que o ainda líder do PS tanto deseja. Sentar-se à mesa com o PSD para, em conjunto, continuarem a destruir aquilo que António Arnaut criou. É esta a "solução" que nos propõem: um pacto entre os dois partidos do arco do poder para acelerar o desmantelamento do SNS, disfarçado de consenso responsável.
A hipocrisia é tão evidente que chega a ser insultuosa. Quem votou contra a existência do SNS surge agora como guardião preocupado da sua sustentabilidade. E esta direção socialista, que deveria defendê-lo, prepara-se para negociar a sua rendição.
Entretanto, do outro lado do Atlântico, Trump foi à Ásia pedir batatinhas. Vendo-se em apuros por não ter os seus apoiantes cultivadores de soja a exportarem para a China e, ainda pior, a falta de terras raras a pôr em causa setores importantes da economia que lhe financiaram a campanha, lá teve de engolir o orgulho e suplicar ao presidente chinês.
Este, magnânimo, deu-lhas. A cena seria cómica se não fosse reveladora: o grande paladino do America First, o homem que prometeu dobrar a China, de joelhos a mendigar concessões comerciais.
A arrogância das tarifas e da guerra comercial esbarrou na realidade: os Estados Unidos dependem da China muito mais do que a retórica trumpista admite. E Xi Jinping sabe-o perfeitamente, concedendo o suficiente para humilhar Trump sem ceder nada de substancial.
Os cultivadores de soja e os magnatas da indústria tecnológica que financiaram a campanha ficam temporariamente satisfeitos. Mas a vassalagem económica dos EUA à China nunca foi tão evidente.

 
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