segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Entre o grotesco laranja e o revigorado fôlego socialista

 

1. Nos tempos de sindicalismo mais ativo sempre achei grotesco o comportamento de um conhecido líder de uma associação filiada na UGT que, tão só percebia as televisões presentes na sala onde ouvia entediado os discursos dos oradores, logo arranjava forma de se levantar e passar frente às câmaras para, perante os que lhe pagavam a lauta qualidade de vida, mediante as obrigatórias quotas (e, tanto quanto o diziam as más línguas, os subornos patronais!), verem-no e comprovarem o quanto aparentava importância.

Lembrei-me desse, hoje merecidamente esquecido,  “dirigente” sindical ao ver Montenegro no rio Douro onde um helicóptero caíra algumas horas atrás e provocara a morte da maioria dos ocupantes.

Por momento ainda ponderei na hipótese de lhe desconhecer os méritos de mergulhador e o ver submerso à procura do corpo do militar, que ainda estava desaparecido. Mas qual quê! A exemplo desse mau exemplo resgatado do passado, importava-lhe, qual abutre, comparecer no local da tragédia e aproveitar-se da circunstância. Não denotando um pingo de vergonha.

2. Não admira o espanto de Maria Luís Albuquerque ao constatar o repúdio socialista pela sua escolha como comissária europeia. Ramo da mesma árvore passista, que gerou Montenegro, gostaria de ter aplausos e não lhe serem recordadas as decisões, tão dispendiosas aos nossos bolsos, enquanto fez parte de um governo, que sujeitou os portugueses a tratos de polé.

Está-lhe garantido chorudo ordenado e uma agenda de contactos para o futuro que, seguindo o exemplo de Durão Barroso, quererá rentabilizar em proveito próprio. Só que o antigo maoísta, para além de geneticamente arrivista, ainda tem alguma esperteza. Coisa que parece não haver na agora escolhida por Montenegro.

3. Ao contrário do que Montenegro repete goebbelsianamente sobre o suposto apoio do país ao seu governo, a situação afigura-se-lhe mais complicada com o discurso de Pedro Nuno Santos neste fim-de-semana: ou atira para o lixo a revisão do IRC e o IRS Jovem, ou tem chumbo certo no orçamento, valendo-lhe então a abstenção do Chega se Ventura constatar serem negativas as perspetivas dadas pelas sondagens quanto a nova ida às urnas.

Elogiado por gente tão diversa quanto o são Paulo Baldaia, Miguel Macedo ou Ana Sá Lopes - nenhum deles seu declarado apoiante - Pedro Nuno Santos surge revigorado para esta rentrée e pronto para devolver o país ao rumo, que as eleições de março puseram em causa.

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