quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Uma mão vazia, outra cheia de nada

 

Sei que demonstro com isso um carácter pouco dado a elogios, mas tenho uma atávica antipatia pela ministra da Saúde. Algo de parecido quando, pelos meus quatro ou cinco anos de idade, logo antipatizei com a vizinha da Dorothy, que lhe assombrariam depois os sonhos sob a capa da Bruxa Malvada do Leste enquanto cirandava pela terra de Oz.

Até pode tratar-se de pessoa simpática, capaz de distribuir generosas esmolas aos pobrezinhos, e regalar de mimos os netos, mas tudo nela inspira desconfiança, se não mesmo perfídia.

E, não só dela, mas do primeiro-ministro, que a tutela, ao convocar uma apressada conferência de imprensa para desviar a atenção dos portugueses dos embaraços em que estão o ministro das Infraestruturas e a indigitada comissária europeia com a história da privatização da TAP em 2015, quando o desgoverno de Passos Coelho não tinha qualquer legitimidade para a decidir.

Perante o caos em que se encontram os hospitais, mormente os serviços de Obstetrícia, era altura de proceder a um número de ilusionismo que, sem escamotear o objetivo superior de Montenegro em acabar de vez com o SNS pondo o Estado a aumentar ainda mais os lucros dos que, gananciosamente, enriquecem com a falta de saúde dos cidadãos, se voltassem a fazer mirabolantes promessas quanto a um futuro mais ou menos distante em que, não só esse caos continuará a prevalecer, como as verbas transferidas dos cofres públicos para os grandes grupos privados aumentarão exponencialmente.

Não admira que não tenha assistido à conferência em causa - o meu delicado estômago já não suporta coisas tão indigestas! - mas os comentários dos partidos da oposição confirmaram o que esperar de mais uma ação de propaganda.

Montenegro parece esquecer-se de algo óbvio: as habilidades trapaceiras até podem resultar das primeiras vezes mas, quando os saldos se resumem ao agravamento de quanto os eleitores acham ser suas justas aspirações e as veem sucessivamente adiadas por power points e outros artifícios similares, a paciência acaba por esgotar-se.

Não virá distante o dia em que esta direita sem ideias eficazes para melhorar a qualidade de vida de quem nela votou ande a pedir ao santinho de Belém, para não convocar novas eleições... 

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