Não tenho mostrado grande entusiasmo com a opinião de alguns amigos quanto a um voto contra do Partido Socialista ao orçamento da AD para 2025, ciente dos riscos de ver reforçada essa direita em possíveis eleições. Mas a chantagem de Montenegro e Marcelo tem sido tão insidiosa, que estou pronto a rever essa cautela até por prever que, intimidado com a possibilidade de conhecer provável revés, Ventura se acagace (como é próprio dos poltrões do seu estilo!) e seja ele a cumprir a missão por que o patronato o subsidia.
O voto contra denunciando as malfeitorias que se anunciam para a generalidade dos jovens, que continuarão sem emprego digno, sem casa e com propinas aumentadas nas universidades, - e dos patrões das pequenas e médias empresas, que verão só privilegiados os das grandes, abrirá espaço para as esquerdas recuperarem a maioria sociológica anterior e reiniciarem o ciclo anunciado em 2015 que, por culpa própria e muitas campanhas mediáticas destinadas a diaboliza-las, perderam. Para não falar da ação conspirativa de um setor do ministério público, que continuará a ser temível adversário com Amadeu Guerra a chefiá-lo, e contra o qual terão de encontrar-se antídotos mais eficazes do que António Costa intentou com a ingénua decisão de lhe dar livre freio.
Mas, e se Ventura cumprir por uma vez o que prometia vir a fazer, e também votar contra o orçamento? A realidade dos últimos anos já demonstrou que, para o bem e para o mal, os eleitores são capazes de surpreender os prognósticos dos comentadores televisivos, num caso dando maioria absoluta ao PS, noutro demonstrando que os abstencionistas contumazes podem ser presa fácil dos discursos demagógicos da extrema-direita.
Ponhamos as coisas agora neste pé: e se esses abstencionistas, que nada de bom viram para si com a sua opção, voltarem a não se dar à maçada de ir às urnas? Poderá Montenegro enganar-se com a hipótese deles o virem a apoiar a par de alguns da Iniciativa Liberal, que anda convertida numa saca de gatos onde todos se arrepelam por a liderarem?
Voltando à condição de votarem os eleitores habituais da forma como o fizeram em março, o PS, o Bloco, a CDU e até o Livre poderão aumentar os grupos parlamentares e aproximarem-se da realidade de há nove anos atrás. Sobretudo se a campanha de todos coincidir no entusiasmo de concitar os apoiantes a participarem na missão de, em definitivo, desfeitearem a missão para que Marcelo se atribuiu ao concorrer para Belém.
No campo dos ses tudo se torna possível e Pedro Nuno Santos tem coragem mais do que suficiente para arriscar aquela que é a grande decisão, que definirá o futuro dos portugueses nos próximos anos: fazer deste introito direitista um período curto de que não sobrem tão más memórias quantas as advindas no quadriénio de Passos Coelho. Que convirá sempre trazer à colação por serem as que as direitas nos podem impor...
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