domingo, 6 de agosto de 2023

38 milhões de euros dados a quem não os merece

 

Nos anos de diáspora marítima passaram-me ao lado inúmeros acontecimentos importantes, que por aqui se viviam. Lá longe, no meio dos oceanos, e numa época em que ainda imaginava o que viriam a ser a internet ou os telemóveis, não havia como saber o que se vivenciava neste cantinho peninsular.

Vivi os dias mais recentes como houvesse regressado a tais lonjuras. Porque assim me tem passado totalmente ao lado essa presença papal e a de milhares de turistas religiosos, que transformaram as deslocações para o outro lado do rio numa prudente impossibilidade.

Sobre Francisco já o disse e volto a repetir: não é sectário que me mereça simpatia. Bastou conhecer-lhe as comprometedoras atitudes durante a ditadura dos generais argentinos para devotar-lhe a indiferença devida aos que se acobardam perante a iniquidade do poder absoluto. Mas, se dúvidas houvesse quanto à precipitação desse juízo, bastar-me-iam as prédicas sobre o aborto e a eutanásia para ficar definitivamente convencido.

O que, porém, me indigna neste espaventoso evento é o quanto para ele tenho de contribuir. Sendo um convicto ateu, porque devo contribuir com os meus impostos para esta réplica neobarroca de revestir a fé de tão esdrúxulos atributos, que iniba os crentes de passarem os seus fundamentos pelos objetivos crivos da Ciência? Porque não se deixaram, como em Espanha, as despesas correrem por conta dos que continuarão a viver à custa dessas insensatas crendices?

Os 38 milhões de euros investidos pelo Estado laico naquela que tem sido uma violação grosseira ao princípio constitucional da sua separação relativamente às diversas Igrejas, melhor seriam aplicados onde fazem efetivamente falta...

2 comentários:

  1. Muitio bem. Completamente de acordo.

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  2. Discordo completamente. "Sendo um convicto ateu, porque devo contribuir com os meus impostos para esta réplica" Por uma questão de solidariedade para com os que não pensam como eu.
    Com os meus impostos? A produção é social, uma pessoa sozinha não produz nada. E há sempre a questão da solidariedade para os que não pensam como eu. Também beneficio dos impostos deles.

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