quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O humor de Centeno é inacessível aos mentecaptos

Ao ver o ar arrogante dos dois líderes parlamentares da direita a enunciarem as dúvidas sobre o recuperação dos 50% da TAP para o setor público, lembrei, inevitavelmente, o título do artigo da Mariana Mortágua ontem publicado no «Jornal de Notícias»: “É preciso ter lata!”.
De facto, depois de termos assistido ao tremendo escândalo, que foi a assinatura à pressa da privatização da empresa aérea pelo governo já demitido, o decoro aconselharia humildade e recato a quem revelou tão notória falta de escrúpulos.
Não é essa a intenção da direita para os tempos vindouros: Maria Luís Albuquerque fez uma fraude indisfarçável na execução do Orçamento de 2015, com 677 milhões de euros martelados e a serem pagos por quem lhe sucedesse.  Essa uma das razões porque Mário Centeno teve de ajustar o exercício de 2016  a essa «surpresa», adiando medidas, que acelerariam o crescimento e reduziriam o desemprego. E, no entanto, é ver essa mesma direita a mostrar a mesma pesporrência criticando o documento socialista como se tivesse a consciência limpa quanto à trágica herança, que lhe legou.
Mas o Ministro das Finanças está a comportar-se com uma inteligência e uma capacidade argumentativa, que me dá frequente gozo, como sucedeu na Comissão Parlamentar desta manhã em que, elegantemente, se escusou a fazer o desenho necessário para que a ignorante Cecília Meireles soubesse do que estava a querer falar.
Dias atrás, a interlocutores mais inteligentes - os dois jornalistas do «Expresso» que o entrevistaram - foi com saborosa ironia, que lhes contrapôs as dúvidas quanto aos equilíbrios entre receitas e despesas, com um definitivo: “A teia dos impostos é uma coisa terrível!”.
Um par de semanas atrás o ex-embaixador Seixas da Costa lamentava que Centeno estivesse a perder o sorriso que parecia estar sempre presente no seu rosto. Engano o seu: mesmo numa pose mais circunspecta o ministro mantém um espírito de humor, que embaraça os néscios e entusiasma os mais sagazes.
E, mesmo quando nessa entrevista o tentaram perturbar com uma questão delicada - o relacionamento com o ainda governador do Banco de Portugal, que tudo fez para o impedir de assumir na instituição o alto cargo para o qual concorrera e era, de longe, o mais qualificado, - ele mostrou o mesmo garbo, alfinetando o esdrúxulo personagem com o tom friamente assassino: “também ele, como todas as figuras públicas, deve ser sujeito a avaliação do desempenho.”
Sabendo-se tudo quanto sucedeu na Banca nos anos do mandato de Carlos Costa, não é preciso dizer mais do que isto para o confrontar com a sua reiterada incompetência.
É bom sentir o crucial ministério das Finanças entregue a quem dá mostras de saber o que faz: depois de um Vítor Gaspar, que foi bem além da troika e, depois, comprovado o falhanço total da sua estratégia, se quis pôr na alheta, e uma Maria Luís, que simbolizou o melhor exemplo possível de apedeuta presunçosa, temos enfim quem não se curva perante nenhum encadeirado e bate o pé a quem exige mais do que ditaria o respeito pela soberania dos povos. 

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