sábado, 27 de fevereiro de 2016

A urgência de extirpar um cancro que a todos nos mina

Comparemos o cartaz polémico lançado nas redes sociais pelo Bloco de Esquerda para comemorar a vitória no Parlamento a respeito da adoção de crianças por casais do mesmo sexo e a capa do «Expresso», onde Carlos Costa arma-se em arruaceiro e diz: «Seria curioso demitir-me por um pequeno incidente».
Entre as duas imagens a que me indigna, a que me revolta, é obviamente a segunda.
Eu sei que a direita tem uma fobia recente com os cartazes como sucedeu com os do PS na pré-campanha eleitoral do verão passado. Descobriu então que a melhor forma de distrair os incautos da substância das coisas é disparar célere sobre a sua aparência e conseguiu recolher frutos dessa tática habilidosa, mas sem pinga de escrúpulo.
Dar-se-á entre nós um passo civilizacional muito positivo, quando se conseguir rir de tudo, como fazem os ingleses para os quais é perfeitamente normal fazer da rainha a protagonista das suas chalaças. Por cá ainda se continua a considerar crime de lesa majestade “ferir” certos símbolos e, por isso mesmo são muitos os exemplos ocorridos na história da nossa Democracia em que desde o Teatro da Comuna ainda em 1974, a João Grosso que se “atreveu” a cantar o hino nacional em versão rock em 1986,  de Herman José censurado em 1988 por entrevistar a Rainha Santa isabel até à absurda atitude de Sousa Lara a respeito do «Evangelho Segundo Jesus Cristo» de Saramago, são demasiados os casos em que as vacas sagradas, sejam os defensores do hino sejam os paladinos das crendices católicas, não hesitaram em lançar as suas fatwas.
Por uma questão de coerência se ainda há um ano assumia claramente o «Je Suis Charlie» em resposta ao atentado terrorista contra quem utilizava Maomé no seu exercício de liberdade de expressão, só posso estar do lado dos que não veem qualquer problema em recorrer à imagem de Jesus. Até porque o clero, que agora manifestou indignação pelo cartaz, é o culpado de tanta infelicidade sentida nos últimos anos pelos casais, que só agora viram respondidas as suas aspirações a serem entendidos como progenitores com os mesmos direitos dos que são heterossexuais.
Pusesse a Igreja Portuguesa a mão na consciência para conseguir o perdão dos muitos pecados devidos ao seu fanatismo ideológico e teria menos tempo para se dedicar ao fútil esforço de condicionar a liberdade de expressão alheia.
Da mesma forma que os autores do cartaz polémico não prejudicaram ninguém ao contrário dos que invocam o santo nome de deus em vão - para quando um pedido de perdão pela óbvia cumplicidade da Igreja portuguesa com a ditadura? - também os lesados do BES, e porventura do Banif, só poderão sentir um acréscimo significativo de revolta pela despudorada frase de Carlos Costa.
“Um pequeno incidente” todo o conjunto de atos e omissões, que deixou tanta gente na miséria e a maioria dos portugueses a pagarem os custos da sua negligência, se não mesmo cumplicidade, nos atos ruinosos da Banca privada nos últimos anos?
Carlos Costa já deixou de ser um mero erro de casting ou um cúmplice da direita na destruição do setor bancário em Portugal para ser um cancro de que os portugueses se devem rapidamente livrar sob pena de ainda serem chamados a pagar custos mais elevados pela sua nociva ação.

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