domingo, 28 de fevereiro de 2016

De eurófilo a quase eurocético

Esta semana, no «Jornal de Negócios, li o que Fernando Sobral opina sobre o retrato atual da União Europeia e não posso estar mais de acordo: “vai sendo cada vez mais uma moeda (o euro) e um exército de burocratas sediados em Bruxelas que estão apenas preocupados com os défices excessivos e não com o problema de milhões de migrantes, a crise do desemprego ou os atentados às liberdades em diferentes países do Leste europeu”.
E, no entanto, há trinta anos eu era um eurófilo entusiasta, que antevia um futuro próspero num continente democrático, desenvolvido e capaz de garantir o bem estar das suas populações. Os danos causados pela substituição dos políticos da dimensão de um Mitterrand e de um Kohl, pela casta de funcionários eivados de uma cartilha neoliberal - vide o grotesco relatório deles emanado esta semana e em que fazem um despudorado bota abaixo das políticas do nosso governo! - criou todas as disfuncionalidades, que a entrada acelerada dos antigos países de Leste e a sobreposição dos interesses financeiros aos dos eleitores, precipitou o estado calamitoso em que a União se arrasta.
Hoje, quando ouço os dirigentes do PCP a defenderem a saída da União, continuo a discordar do que dizem, mas compreendo o fundamento em que assentam essa proposta. Não se colocando para já a implosão da organização, ela vai avançando cada vez mais nesse sentido e lá chegará o dia em que a questão se colocará e se decidirá minimizando-se os custos na medida do possível.
É por isso que o referendo sobre o Brexit pode significar mais um salto qualitativo num futuro, que se adivinha.
Provavelmente são os ingleses os que mais padecerão com o seu isolamento, muito embora a evolução da sua colonização pelos EUA possa minimizar-lhes os custos. Mas os alemães não deixarão de fazer de Frankfurt uma praça financeira tão ou mais importante do que a City, e na terra de Sua Majestade já não sobra indústria nem minas para reorientar uma economia menos assente no seu atual paradigma. E a Escócia encontrará motivos para se independentizar…
Mas não faltarão os que, doravante, dentro da União Europeia, pressionarão para conseguir o mesmo tipo de facilidades agora atribuídas ao Reino Unido. O que levará à questão: para que servirá ainda uma organização sem qualquer cimento que ainda consiga ligar os seus membros?

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