terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A direita em risco de ficar desdentada

É como se lhe arrancassem os dentes!
Esta é uma das expressões populares, que melhor caracteriza a sensação de inferioridade de alguém relativamente a quem lhes surge pela frente com uma superioridade argumentativa q.b. para o fazer sentir intimamente amesquinhado.
Vem isto a propósito do debate parlamentar de ontem sobre o Orçamento, que será hoje aprovado pela maioria de esquerda. Porque não tem pressupostos capazes de contrariarem na substância aquilo que o governo defende, a direita insulta, mente e deturpa, revelando-se igual a si mesma.
É que, contrariando tudo quanto lhe prognosticaram quase todos os comentadores televisivos, António Costa tem conseguido demonstrar a capacidade de concretizar a quadratura do círculo, conciliando tudo quanto era tido como irremediavelmente oposto. Justifica-se, assim, a ira cada vez mais incontida desses mesmos opinadores mediáticos, subitamente, confrontados com os desmentidos sucessivos das suas convicções.
O Orçamento ontem apresentado tem quatro requisitos fundamentais:
- respeita a Constituição ao contrário do que tinha sucedido nos últimos quatro anos;
- corresponde às promessas feitas durante a campanha eleitoral, confirmando a máxima «palavra dada é palavra honrada»;
- cumpre tudo quanto foi acordado com os outros partidos da esquerda parlamentar;
- acata todas as obrigações instituídas pelos tratados internacionais;
A direita sente-se, particularmente, incomodada por encarar um Orçamento credível e honesto ao contrário do que estava habituada: sem que os tais comentadores televisivos se incomodassem, todos os orçamentos de Vítor Gaspar ou de Maria Luís Albuquerque eram exercícios mistificatórios em folhas de excel, mais tarde ou mais cedo condenados a serem revistos em retificativos sempre agravados nas previsões do défice e do decrescimento económico.
E, porque bom julgador por si se julga, a direita desespera com a possibilidade de ver esta viragem da página da austeridade a concretizar-se sem sobressaltos. Daí ter iniciado este texto com a forte probabilidade de a ver desdentada. Porque a convicção de António Costa e de Mário Centeno é tal relativamente aos efeitos macroeconómicos desta forma diferente de governação, que há fortes possibilidades de ver a economia e o emprego a crescer e o défice e a dívida a reduzirem-se.
Ontem foi confrangedor o espetáculo de uma direita apostada em criticar as erratas e ser confrontada com a substituição integral de todos os relatórios, que acompanharam os orçamentos entre 2012 e 2015.
«Quem tanto quer discutir a errata é porque não quer ir à discussão da substância», acusaria António Costa numa das suas excelentes intervenções. E, subindo de tom, acusou o passismo de ser uma versão atualizada do passadismo, porque conhece-se bem demais a orientação de um opositor que lamentara concluir a anterior legislatura sem ter reduzido tanto os custos do trabalho quanto teria gostado.
Não espanta, pois, que toda a esquerda parlamentar aprove este documento. Não é preciso grande imaginação para conjeturar qual seria o Orçamento para 2016 se a direita ainda estivesse no governo. A começar pelo corte de 600 milhões de euros anuais aos pensionistas e reformados, que a direita sempre se escusa a justificar...

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