sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Narrativas desmentidas

A direita portuguesa anda assaz desnorteada, como se comprovou no debate parlamentar desta manhã. Apesar de os seus spin doctors continuarem ativamente a procurar dar razão à máxima goebbelsiana de repetir mil vezes uma mentira até ela ser intuída como verdadeira pelos seus ouvintes, a falácia do aumento brutal de impostos está a desfazer-se a olhos vistos.
Não só se consolida a versão de existir no Orçamento para 2016 uma redução efetiva de 291 milhões de euros em relação ao exercício anterior, também se consolida a previsão de aumentar os rendimentos das famílias em 1372 milhões de euros em contraponto aos 600 milhões impostos pelas medidas adicionais exigidas pela Comissão Europeia.
No entretanto a subida das taxas de juro suscitadas por circunstâncias adversas na política e na economia mundial, fizeram a mesma direita apontar as baterias a António Costa como se até a queda abrupta das ações na Bolsa de Hong Kong fosse causada pelo previsível crescimento no consumo interno dos portugueses.
Se a ciência aceita a tese do bater de asas da borboleta causar tempestades medonhas do outro lado do mundo, essa hipótese académica está longe de se confirmar na prática e especificamente para as decisões do atual governo português.
Mas o inevitável Schäuble veio ajudar-lhes na festa alertando para o susto por que passariam os mercados em funções das mudanças ocorridas em Lisboa. É claro que o ministro alemão estava a revelar o seu lado de ilusionista tosco, apontando com uma mão para Lisboa e tapando sem grande sucesso o grande problema por que passa o Deustche Bank cuja falência iminente chegou a ser segredada nos bastidores das praças bolsistas internacionais durante esta semana.
Esgotadas, pois, essas munições, julgou a direita ter outra boia que pudesse socorre-la do previsível naufrágio das suas sucessivas narrativas: as «medidas adicionais« que Mário Centeno prometera estudar, quando o Eurogrupo o questionou quanto ao eventual insucesso na execução deste orçamento.
Obviamente que a direita conhecia de antemão a impossibilidade de elencar qualquer dessas medidas - um estudo não se faz propriamente de um dia para o outro! - mas queria dar gás à nova vertente da sua propaganda: por agora os portugueses podem ficar satisfeitos ao sentirem mais dinheiro nos bolsos, mas virão sempre essas terríveis «medidas adicionais» para lhas retirarem com juros acrescidos.
No Parlamento, António Costa não só manifestou plena confiança na capacidade para executar este orçamento, como deu explicação sibilina para o facto de não estarem previstas tais medidas: “talvez fosse assim antes, mas agora as medidas são preparadas em Lisboa e não em Bruxelas!”
E não deixou de lembrar o que anda demasiado esquecido nas mentes dos comentadores televisivos: no PEC com que se comprometeu para este ano o governo de Passos Coelho prometeu cortes adicionais de 600 milhões de euros nas pensões de reforma e mais 0,4% no aumento de impostos. Seria, pois, claro que, acaso tivesse prosseguido no poder a direita agravaria o que fez em quatro anos: espoliar as famílias portugueses de 11% do seu rendimento.
Ao invés, este é o governo que assegura já uma recuperação de 2,5% nesses rendimentos.  E essa faz toda a diferença entre um governo que cumpre quanto prometeu em comparação com quem sempre mentiu para melhor empobrecer a grande maioria dos portugueses.

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