Há uns dias atrás o canal franco-alemão ARTE transmitiu «Revue», o filme de Sergei Loznitsa em que ele utiliza as antigas actualidades soviéticas para mostrar a realidade mítica mostrada pelo regime de Krushev para consumo interno e externo.
O que aí vemos são operários e camponeses militantemente orgulhosos das suas conquistas e com disponibilidade para, à noite ou aos fins-de-semana, assistirem a peças de teatro amador ou a fanfarras.
Se a realidade tivesse coincidido com essa aparência utópica ainda teríamos um regime comunista de Minsk a Vladisvostoque. Infelizmente sabemos não ter sido assim: a corrupção, o nepotismo e a repressão foram aspectos nocivos, que precipitaram o advento da perestroika e a derrocada do regime.
No entanto o filme de Lonitsa quase deixa pensar na exequibilidade dessa utopia. Sobretudo, quando estamos perante a falência brutal do sistema capitalista e o crescimento obsceno das desigualdades entre uns quantos milionários e a grande maioria dos humilhados, ofendidos e explorados.
Para já, muitos dos princípios enunciados por Karl Marx voltam a estar na ordem do dia. Faltará dar-lhes sequência prática sob formas de contestação, que redundem na possibilidade concreta de uma revolução emancipadora.
Se todos os cidadãos devem usufruir do direito à felicidade, é tempo de imaginar as formas de tornar realizável o que até agora só funcionou como mistificação utópica.
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