quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

DE VITÓRIA EM VITÓRIA

Embora a generalidade dos jornais e das televisões esteja alinhada com a linha política e ideológica deste Governo, a aparente sucessão de vitórias deste para impor a sua agenda neoliberal contra trabalhadores, reformados e pensionistas pode iludir quem a tudo assiste sem constatar o tipo de contestação sofrida pelos Executivos de José Sócrates.
No «Diário de Notícias», António Perez Metelo lembra oportunamente a mitologia grega : O rei Pirro de Épiro desafiou Roma, derrotando-a em sucessivas batalhas. Mas, à medida de cada novo êxito, as forças de Pirro iam mirrando, enquanto as hostes de Roma recuperavam com avalanches de novos recrutas. Ao ponto de Pirro exclamar, no desfecho do confronto em Ásculo: “Mais uma vitória como esta e estou completamente arruinado!”
Arruinado é o que ameaça ficar o país depois de alguns anos de (des)governação passista, razão porque não tardará a enfrentar os custos de tal actividade . Porque, como lembra Pedro Silva Pereira, no «Diário Económico», a campanha eleitoral do partido vencedor girou em torno de uma promessa mil vezes repetida: austeridade contra "as gorduras do Estado", não contra as pessoas. Compreende-se bem que os portugueses tenham votado na esperança de melhorar as suas vidas.
Hoje o «banho de realidade» a que muitos votantes desta maioria se sujeitaram deve tê-los feito arrepender de uma opção em que embarcaram levianamente, julgando residir em José Sócrates a origem de todos os males do País. Recorda o mesmo articulista, que estamos ainda a assistir ao ajustamento telúrico dos fluxos financeiros colossais postos em movimento descontrolado e desesperadamente especulativo pela crise começada em 2007 e causada por um sistema financeiro complexo, ganancioso e desregulado. É ainda esse dinamismo financeiro especulativo que marca o ritmo e o sentido da crise que enfrentamos.
 Não espanta, assim, que  muito mais cedo do que eu esperaria (previa que tal sucedesse lá para o início do Verão de 2012!), já há quem renove elogios a José Sócrates, mesmo ainda o não eximindo de tudo quanto conduziu à intervenção da troika. É o que se nota na crónica de Bruno Proença no mesmo Diário Económico: Sócrates é um dos políticos mais talentosos da sua geração, reunindo qualidades pouco habituais na política à portuguesa: a resiliência e a capacidade de iniciativa. O seu Governo foi vencido por uma crise financeira internacional onde não tem responsabilidades, que apanhou a economia portuguesa num estado lastimável devido a políticas erradas que foram adoptadas nos últimos 20 anos e que Sócrates não só não teve a capacidade de alterar como aprofundou.

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