Embora a generalidade dos jornais e das televisões esteja alinhada com a linha política e ideológica deste Governo, a aparente sucessão de vitórias deste para impor a sua agenda neoliberal contra trabalhadores, reformados e pensionistas pode iludir quem a tudo assiste sem constatar o tipo de contestação sofrida pelos Executivos de José Sócrates.
Arruinado é o que ameaça ficar o país depois de alguns anos de (des)governação passista, razão porque não tardará a enfrentar os custos de tal actividade . Porque, como lembra Pedro Silva Pereira, no «Diário Económico», a campanha eleitoral do partido vencedor girou em torno de uma promessa mil vezes repetida: austeridade contra "as gorduras do Estado", não contra as pessoas. Compreende-se bem que os portugueses tenham votado na esperança de melhorar as suas vidas.
Hoje o «banho de realidade» a que muitos votantes desta maioria se sujeitaram deve tê-los feito arrepender de uma opção em que embarcaram levianamente, julgando residir em José Sócrates a origem de todos os males do País. Recorda o mesmo articulista, que estamos ainda a assistir ao ajustamento telúrico dos fluxos financeiros colossais postos em movimento descontrolado e desesperadamente especulativo pela crise começada em 2007 e causada por um sistema financeiro complexo, ganancioso e desregulado. É ainda esse dinamismo financeiro especulativo que marca o ritmo e o sentido da crise que enfrentamos.
Não espanta, assim, que muito mais cedo do que eu esperaria (previa que tal sucedesse lá para o início do Verão de 2012!), já há quem renove elogios a José Sócrates, mesmo ainda o não eximindo de tudo quanto conduziu à intervenção da troika. É o que se nota na crónica de Bruno Proença no mesmo Diário Económico: Sócrates é um dos políticos mais talentosos da sua geração, reunindo qualidades pouco habituais na política à portuguesa: a resiliência e a capacidade de iniciativa. O seu Governo foi vencido por uma crise financeira internacional onde não tem responsabilidades, que apanhou a economia portuguesa num estado lastimável devido a políticas erradas que foram adoptadas nos últimos 20 anos e que Sócrates não só não teve a capacidade de alterar como aprofundou.
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