segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UM ARTIGO ESCLARECEDOR

É muito raro encontrar colunista no «Público», que fuja ao estereotipo do opositor de direita ao governo de José Sócrates, e portanto capaz de um discurso diferente da cartilha neoliberal por ora dominante.
Verdadeiro Quixote surge São José de Almeida com artigos, que não deixam de contestar o rumo traçado por José Sócrates, mas com a virtude de o fazer pela esquerda sem se deixar enfeudar às cassetes gastas do PCP ou do Bloco de Esquerda.
No curioso texto publicado na edição do dia 23 de Outubro ela começa por empolar a proposta de Carvalho da Silva no programa «Prós e Contras»: que os accionistas de um grupo específico de empresas aceitassem entregar ao Estado os lucros que recebem durante apenas seis meses. O resultado obtido equivaleria a 85% das receitas previstas por Teixeira dos Santos com as medidas agora anunciadas para o Orçamento de 2011.
É claro que, no actual estado de relação de forças entre quem detém o poder e quem a ele se submete, tal medida é impraticável. Mas as revoltas francesas fazem emergir a esperança de um levantamento geral dos explorados, que permita questionar o lucro dos accionistas das grandes empresas e pôr em causa o próprio sistema económico em vigor e o funcionamento do capitalismo financeiro e especulativo.
Mais adiante, São José Almeida demonstra a hipocrisia desta suposta democracia em que vivemos, que mais não é do que uma ditadura dos mercados:
Os mercados são os novos donos do mundo. Põem e dispõem da vida das pessoas e dão ordens ao poder político democraticamente eleito e supostamente em funções de governação em representação do soberano, do povo, das pessoas. De repente, aquilo que era apontado como o modelo social de excelência, porque o mais democrático e porque o que ao maior número de pessoas conseguia assegurar melhor bem estar, é dilapidado e destruído em nome dos interesses da entidade chamada mercados. E a dúvida instala-se: será que o bem estar da sociedade da grande maioria das populações da União Europeia pode regredir de forma radical em nome do interesse dessa entidade chamada mercados? O que é e quem representa os mercados? São constituídos por empresas multinacionais, como empresas de especulação financeira, bancos e seguradoras, não são? Têm accionistas e administradores, não têm? Por que  ninguém fala o nome dos novos senhores do mundo?

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