Entusiasmado com as sondagens, que dão Passos Coelho à beira da maioria absoluta, um comentador do Diário Económica explica nelas a súbita «vontade» do Governo em chegar a acordo para o Orçamento evitando uma crise política.
Tese estúpida, obviamente, já que o motivo maior da urgência de acordo continua a residir na facilitação do crédito bancário internacional às necessidades internas e não lembra a ninguém, que se governe em estado de urgência em função de algo tão volúvel quanto o são as sondagens. Tanto mais, que são elas mesmas a confirmar a descrença dos portugueses quanto à possibilidade de que haja quem possa fazer melhor.
E o próprio comportamento do PSD o atesta: sabe-se o que Passos Coelho não quer - uma escola e uma saúde públicas financiadas pelo Estado como forma de dar alguma igualdade de direitos aos cidadãos - mas ele não se atreve a confessar o que quer: um Estado de poucos para poucos, deixando a maioria entregue a si mesma de acordo com o seu credo neoliberal. Com dinheiro poderá ter o pão, a educação, a saúde e a habitação. Se não tiver, que tivesse!
O que impressiona nos resultados das sondagens é que quem aposta em Passos Coelho só pode ser ainda mais prejudicado pela sua ideia de governação, mas parece disposto a deixá-lo demonstrar. Quando o que seria lógico seria uma transferência de votos do PS para a sua esquerda, aumentando o peso sociológico dos comunistas e dos bloquistas na condução das políticas nacionais.
Esperemos alguma clarividência no eleitorado quando, em meados do próximo ano, voltar a decidir nas urnas quem continuará a reger o curso do país...
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