O último ensaio do Luc Ferry tem duas teses ambíguas, uma das quais muito incensada pelos ideólogos da direita: a de que o consumismo que, nas últimas décadas, deu origem ao capitalismo selvagem dos nossos dias, terá tido origem numa tradição hedonista começada pelos boémios do início do século XX e a atingir o seu esplendor na revolução hippie dos anos 60.
O que a direita anda a defender - e não esqueçamos, que Luc Ferry foi ministro de um governo de direita em França - é que tudo quanto cheire a rebeldia (nos costumes e nos valores) é que está na origem da agudização da exploração das classes mais desfavorecidas pelas detentoras do poder.
Obviamente não concordo com esta perspectiva, apenas aceitando que algum radicalismo só tem favorecido uma estratégia de domínio económico por parte da emergente elite financeira...
A segunda tese, que parte do mesmo tipo de lógica, explica a decadência do sentimento religioso mediante a sua substituição pela paixão amorosa. Ou seja, prescinde-se de deus em função da sacralização do ser amado pelo qual se poderá chegar ao próprio sacrifício supremo.
Até simpatizo com a tese da substituição do ópio do povo pela obsessão amorosa, mas não me parece que constitua uma explicação maximalista. Num tempo em que a ciência encontra explicações do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, sobra pouco espaço para o imaterial.
Aonde se situará qualquer dos deuses criados pelo Homem, quando nenhum espaço subsiste para ele ocupar na manifestação dos seus supostos poderes?
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