sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Rusgas e nódoas

 

Tenho de dar plena razão a Pedro Marques Lopes, quando confessa ter-se sentido envergonhado com o torpe espetáculo proporcionado pelas televisões com a rusga a quem vive na Mouraria.

Mais do que o termo português conoto tudo aquilo com outro, francês - o de rafle -, o da arregimentação de judeus durante o regime de Vichy para os juntar no Velodrome d’Hiver e enviá-los depois para as câmaras de extermínio de Auschwitz.

É o que se conclui desta ação protonazi, que serve para os mais inocentes se convencerem quanto à deriva do desgoverno de Montenegro na direção da extrema-direita, E, mais uma vez - a exemplo do sucedido com a polícia francesa em 16 e 17 de julho de 1942, não há quem na lusa se insurja contra a despudorada utilização por quem dela vem crescentemente abusado como se, depois de lhes dar as solicitadas lentilhas, recusadas pelo anterior governo, conte com a sua canina fidelidade.

Há motivos para, enquanto portugueses, sentirmos vergonha quanto à forma como estão a ser destratados cidadãos de outras nacionalidades, que aqui vêm corresponder à procura da classe empresarial - que neles encontra mão-de-obra indisponível e faz baixar os salários! - e se veem humilhados e ofendidos.

E maior despudor demonstra Montenegro ao querer conotar o Partido Socialista ao Chega depois de se ter associado aos apaniguados de Ventura nos Açores e na Madeira, e pretende vestir-se de lobo para se tornar igual a essa gente ignóbil.

De tudo isto só sobra um ligeiro motivo de consolo na deceção de Marcelo Rebelo de Sousa que, depois de ter sido elemento ativo na conspiração judicial, que empurrou os socialistas do poder, se encontra a contas com quem constata não lhe passar cavaco (até por já o ter por si!).

Bem pode Marcelo lamentar o tempo em que foi feliz na “cooperação estratégica” com António Costa, que o rural substituto tem as manhas do provinciano chico esperto e, por algum tempo, elas bastarão para lhe dar a sensação de sentar o traseiro na poltrona do poder como sucede a alguns bem sucedidos arrivistas.

Mas, lembra-nos o maravilhoso Barry Lindon de Stanley Kubrick, quão fátua é essa ilusão. Não tendo gente de qualidade a acolitá-lo, acontecerá aquilo que Eça prognosticou a propósito de outros montenegros do seu tempo: Este governo não há de cair - porque não é um edifício. Tem de sair com benzina - porque é uma nódoa! 

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