sexta-feira, 7 de junho de 2024

O regresso da dona Constança

 

A última quinta-feira do período de campanha eleitoral foi um regabofe de ingerências da Justiça no que só à política deveria dizer respeito. A decisão condenatória, que torna Manuel Pinho no primeiro ex-ministro a ser condenado a prisão efetiva é um fait divers, que conhecerá muitos episódios futuros e, provavelmente, sem efetivo desiderato antes do passamento dos principais réus. Mas para alguns juízes da “escola” de Carlos Alexandre era irresistível a condenação do antigo titular de um governo socialista na semana em que decorrem as eleições, que são manifesta segunda volta das legislativas de março.

Porque não poderiam ficar atrás dos juízes na sanha antissocialista o ministério público organizou a acusação a Lacerda Sales, fazendo-o arguido num caso em que qualquer pessoa com um pingo de humanidade faria aquilo, que dizem ele ter feito: agir em prol de duas crianças, que precisavam de um tratamento também ministrado a outras, que tiveram a infelicidade de nascer com tão triste sina.

Mas já é um clássico: sempre que há eleições lá temos a dona Constança do costume, fazendo-se convidada para influenciar o rumo dos acontecimentos. Que não surtirão efeito de acordo com as mais recentes sondagens, e após semanas sucessivas em que Montenegro anunciou como suas as políticas, que já estavam em curso como resultado da governação de António Costa, e prometeu outras com custos e concretização para o dia de são nunca mais.

Curioso como o comentariado mediático quase não fala da secretária de Estado, Cristina Dias, que Pedro Passos Coelho soberbamente remunerou enquanto administradora do regulador dos transportes e, com velocidade alucinante, conseguiu a revogação do contrato com a CP  e uma singular indemnização a que não deveria ter direito por ser do seu interesse a transferência propiciada por um governo em fim de ciclo.

Esses opinadores mediáticos - de entre os quais Clara Ferreira Alves reencontrada com os fervores entusiásticos, que fizeram dela uma das mais notórias santanetes! - andam a elogiar Luís Montenegro pela quotidiana agitação do espaço noticioso com as suas inócuas, mas longe de serem inofensivas, proclamações. Mas até o insuspeito Manuel Carvalho olha para a rendição a algumas reivindicações corporativas e prevê o óbvio: “depois das eleições europeias, depois de ter disparado planos e decretos contra tudo o que podia dar votos, o Governo vai provar o lado amargo do poder. Tenha ou não mais força política em resultado das eleições, sabe que o ritmo frenético das últimas semanas (...) vai acabar.”

Para as esquerdas, que olham para esta realidade como uma espécie de sonho mau, lembra o «Público» uma pertinente citação de José Saramago: “A grande sabedoria é ter  um sentido relativizado de tudo. Não dramatizar nada.”

Resta enfim a atualidade internacional com os crimes quotidianos do governo sionista e a desesperada tentativa do comediante de Kiev em tornar a dita cimeira de paz numa coisa útil, que disfarce a aproximação de uma derrota, que já justifica o recuo tático de Joe Biden, excluindo a integração da Ucrânia na Nato, mesmo depois de um acordo de paz com a Rússia.

Não admira que Putin tenha menos pejo em ameaçar os inimigos: com a sua falta de lucidez quanto ao que estava em jogo os governos europeus só lhe deram o ensejo de consolidar uma ditadura mafiosa que demorará anos a ser substituída por alternativa, que seja mais bonançosa para quem anseia pelas suas manhãs claras...  

1 comentário:

  1. O título poderia ser "A humanização dos ditos humanos": É de bradar aos céus a desfaçatez com que o tido por primeiro ministro de Portugal de nome Luís Montenegro se apropria e divulga - como seus - os trabalhos desenvolvidos por políticos nacionais que nada têm a ver com o PSD ou a AD! Já não bastava termos um Presidente da República que cuida ao pormenor e com excelso rigor a sua popularidade política que pretende seja declamada com estrénuo bom som nos púlpitos da História de Portugal! O que me saiu na rifa! Lá tenho de mudar de canal televisivo quando me mostram as fuças de tal trapaceiro!

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