sábado, 8 de junho de 2024

Fúteis miragens de quem ignora a sua (pouca) valia

 

Discordo de quem opta por não ler a imprensa adversária por condenar-se ao destino das avestruzes, que escondem a cabeça na areia para não verem as ameaças iminentes. No caso do semanário da família Balsemão essa leitura até revela-se bastante instrutiva por ser evidente o incómodo com uma realidade bem diversa da que desejariam os seus principais responsáveis. Bem pode o diretor, João Vieira Pereira, insistir no seu ódio de estimação (António Costa), culpando agora a Agenda do Trabalho Digno por todos os pecados relacionados com a emigração, que é difícil escamotear aquilo que Daniel Oliveira classifica de governo de redundâncias e generalidades apenas apostado em destruir a progressividade fiscal, privatizar o SNS e cercar esses imigrantes, tão imprescindíveis à sua base social de apoio. Por isso justifica apodá-lo de direção de campanha tendo por exclusiva preocupação adiar a próxima crise com um resultado nas europeias, que não soe a dobre de finados.

E porque começava por referir a escassa inteligência de um tipo de aves, natural é conotá-las com quem quer ignorar o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares ao prever um verão caótico semelhante ao que tanto serviu para demolir a credibilidade do governo anterior. Ou quem já comprometeu 540 milhões de euros do orçamento deste ano e dois mil milhões do de 2025, tornando efémera a boa imagem criada nos mercados de capitais pela marca de “país com contas certas”.

No fundo vale a Montenegro, e às direitas em geral, a paradoxal tendência dos portugueses em serem como o cisne da história infantil do patinho feio, tal qual a lembrou Carmo Afonso no jornal da Sonae. Esperemos que depressa os trabalhadores deixem de fazer de conta que pertencem à classe social a que aspiram pertencer, mas lhes é fútil miragem. Talvez vejam então nos cabeças de cartaz da AD aquilo que Miguel Sousa Tavares identifica em Carlos Moedas num texto assassino em que lembra nada ter ele feito nos três anos, que já leva de mandato em Lisboa numa comparação, mais do que comprometedora, com o legado de Fernando Medina.

Não é difícil compreender - da leitura do primeiro caderno do “Expresso” desta semana -, que até os mais árduos apoiantes da atual solução governativa andam desconfortáveis com os péssimos augúrios do que ela significará para os interesses de quem lhes paga o ordenado. Por agora vivamos numa realidade, que faz jus ao que dela diz Guterres: estamos a jogar à roleta russa com um sentido de irresponsabilidade, que nos vai cobrar juros dolorosos mais adiante...

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