Estava a carpir-me ao telefone da enorme angústia causada pela hospitalização da Elza, desde domingo afastada conscientemente de quem ama (embora o problema se viesse a acentuar nas semanas mais recentes), quando do outro lado vem a notícia surpreendente: eu ainda posso ter a esperança de a reaver, de tudo voltar a ser como dantes, tão-só se identifique a causa do que a vem afetando e se a corrija. Para Jorge Coelho essa possibilidade ficou cerceada tão inesperada, quanto tragicamente.
Aos que, estranhando-me o silêncio e a ausência de onde me costumam encontrar, ouviram pretéritas hipóteses, podem dá-las como infundamentadas, porque nenhuma conclusão efetivamente se apurou! Embora esta situação sanitária de não ser autorizado a entrar no hospital para a ver, nem muito menos ali a ficar a acompanhar, corresponda a insuportável tortura.
Pelo contrário para Jorge Coelho não há volta a dar: as circunstâncias em que desapareceu demonstram como é tão frágil a vida, por se revelar ténue a fronteira entre o estarmos cá e o deixarmos de estar, como muito bem o definia Saramago.
Para a memória do camarada hoje desaparecido fica a admiração pela forma combativa como via a ação política, estimulando-nos a vontade em participar nas lutas de cada instante, quando, nos comícios, a sua voz forte nos incrementava tal força.
Estes andam a ser, de facto, dias de enorme tristeza...
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